Roma Antiga

Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.

quarta-feira, março 31, 2004

Os últimos imperadores-I
A segunda metade do séc. V tal como os anteriores viu diversos imperadores no trono de Augusto, desde governantes conscienciosos a perfeitos incompetentes. Mas estes foram os seus últimos soberanos.
Valentiano III (425-455) era sobrinho do imperador Honorius e neto de Teodósio. Dedicou a vida aos prazeres, a astrologia e religião, deixando o governo, primeiro a sua mãe e depois ao Patrício e magister militum Aécio; este sim, tentou manter a unidade do império: venceu Atila com a ajuda dos Visigodos, tentou virar bárbaros contra outros bárbaros (uma velha táctica romana) mas perdeu a Africa para os Vândalos, boa parte da Gália e Península Ibérica para diversos povos. O único feito notável mesmo de Valentiano foi mandar assassinar Aécio (pretende-se por medo de que este proclamasse o seu filho imperador); foi morto no ano seguinte por partidários do general defunto. Não ficando nenhum membro da família imperial varão disponível (e com o saque de Roma nesse ano e o rapto dos restante membros, não ficou nenhum disponível), depois de algumas intrigas foi escolhido pelos soldados de Aécio um velho senador Petronius Maximus (455) com numerosa experiência governativa. Com o ataque dos Vândalos foi assassinado. Sucedeu-lhe Avitus (455-456). Oriundo de uma família senatorial, ocupara vários cargos governativos na sua Gália natal; tendo o apoio de várias tropas germanas e das cidades da Gália, proclamou-se imperador e foi aceite pelo senado. Sendo um usurpador, não recebeu o reconhecimento do oriente mas esforçou-se por estabelecer a sua autoridade nos territórios ocidentais ainda livres de bárbaros (infelizmente para o império, os bárbaros federados que o apoiavam começaram a conquistar os territórios nas mãos de outros bárbaros para “restabelecer” a autoridade imperial claro). Curiosamente, era já visto pelos italianos como um estrangeiro por vir da Gália (que ainda era província romana de cultura e língua), o que seria impensável um século antes, sinal de que estava já a formar uma espécie de nacionalismo. Enfrentando várias oposições, foi deposto e tornado bispo, assassinado em 457.
Q.F.M.

segunda-feira, março 29, 2004

Um dia na vida dum romano (1)

Os cidadãos romanos, os indígenas romanizados e os escravos libertos usam habitualmente três nomes, que nós denominamos por tria nomina, como eu, Marcvs Clavdivs Osorivs.
Em primeiro lugar aparece o praenomen que, quando nos identificamos nas epígrafes, colocamos muitas vezes em sigla. As mulheres, pelo contrário não têm qualquer prenome.
Segue-se-lhe o nomen propriamente dito. É aqui que nós damos a indicação da nossa família, a gens a que pertencemos. Por isso também lhe chamam o gentílicio. Eu tenho conexões com a gens Claudia de renome no Império, porque foi sob o principado de Cláudio que Aeminium se transforma num município e eu me tornei um cidadão romano na promovida civitas.
Por fim, todos temos um cognomen, que é naturalmente próprio de cada indivíduo. Nos libertos é quase sempre o antigo nome usado como escravo e nos indígenas romanizados, como eu, é também aquele nome que nos liga ao nosso ramo pré-romano. Osorivs é o meu cognome, que vem do meu avô, natural dos povos astures que habitavam no norte da Hispania.
Muitos se identificam apenas pelo cognomen, os escravos (como já se disse), os indígenas e os estrangeiros. Somente as pessoas que adquiriram a cidadania podem, como eu, ostentar os seus orgulhosos tria nomina.
O meu colega da oficina epigráfica tem o cognome grego Philipvs. Em geral, quando isto acontece no mundo romano, é sinal de que esse cidadão é um liberto, pois havia muitos escravos gregos no Império. O nomen e praenomen que ele ostenta hoje, advêm do seu anterior dono que o libertou, um tal Caivs Ivlivs Saturninus da cidade de Bracara Augusta, antigo soldado da VIIª legião Gemina. Este liberto foi escravo desta família, por ser um indivíduo letrado na Antiga Grécia, pois os melhores iam para as famílias abastadas.
O nosso outro companheiro Qvintvs Fabivs Maximvs não tem origem indígena, nem é liberto, pois os seus três nomes são perfeitamente latinos e revelam um indivíduo perfeitamente integrado na cidadania romana há algumas gerações. Talvez se trata até dum colono da Península Ibérica, vindo das terras da Lacio.
Outro aspecto importante na identificação escrita do nome de alguém é a sua filiação. O meu pai era indígena lusitano, de nome Silvanvs. A transmissão do nome de pais para filhos obedece a regras estreitas e o cognome mantém-se inalterável na mesma família. Porém eu adoptei o do meu avô materno, o que podia acontecer apenas em alguns casos.
O cognome é, assim, revelador de muita informação sobre um indivíduo. Pode fazer referência a alguma característica física ou determinado traço de carácter do possuidor, ou pode revelar a sua origem étnica ou devoção religiosa a determinada divindade. É nos cognomes que encontramos os exemplares antroponímicos mais exóticos do Império romano.

M.C.O.

quarta-feira, março 24, 2004

Algumas evoluções do exército romano-III
No séc. II, com a paz e certa prosperidade, os italianos apenas querem ficar na guarda pretoriana (onde usufruem de um soldo mais elevado, prestígio de servir directamente o imperador, e claro poder), e as coortes urbanas, onde gozam as delícias da vida em Itália sem se aborrecer com a guerra. Os legionários são todos colonos. Mas um fenómeno importante começa a impor-se: os soldados que foram desmobilizados numa zona, casaram e ficaram aí a viver e os seus filhos alistam-se mas pretendem servir nessa zona, e não serem colocados noutra terras distante. Ou seja, as legiões de unidade móveis começam a tornar-se fixas, quase guarnições. Este fenómeno do recrutamento e defesa local, só ficaria completo com as reformas no séc. IV entre a divisão entre um exército estacionário e um móvel. Outro elemento, é o progressivo alistamento de cidadãos nas unidades auxiliares (porque os filhos de pais que tinham adquirido a cidadania pretendiam servir nessa unidade e não queriam ir para outro local). As unidades auxiliares vem as suas tropas perderem agressividade na medida em que as zonas que tinham sido anteriormente bárbaras (península ibérica, Gália), estavam a romanizar-se e a ficar mais civilizadas com os progressos da pax romana; vão-se esbater assim as diferenças com as legiões. De qualquer modo mantém-se sempre unidades mais flexíveis (para combate de escaramuça contra salteadores bárbaros), devido ao tipo de função que lhes é exigido. No séc. III devido às dificuldades de recrutamento, é estendida a cidadania a todos os homens livres, o recrutamento fica facilitado, mas vemos, que o critério deixa de ser a qualidade para ser a quantidade. Quanto às tropas auxiliares, vão lentamente ser preenchidas com bárbaros, até que em finais do séc. IV elas detêm o seu quase monopólio com as auxiliae palatinae, tornando-se a tropa de escol do império, em detrimento das legiões (é certo que treinadas e equipadas à romana). Claro que continuaram a existir tropas de elite romanas (da Dalmácia por exemplo).
Q.F.M.

P.S.
Aqui vai alguma bibliografia que usei para o assunto.
Le Boehc, Yann, L'armée romaine sous le haut empire, Picard, 2002
Webster, Graham, The roman imperial army of the first and second centuries, Adam & Charles Black, 1969
MacDowall, Simon, Late roman Cavalaryman AD 236-565, Osprey Publishing, 1995

terça-feira, março 23, 2004




PERSONAGENS (V): TIBÉRIO E CAIO GRACO Os Gracos ficaram para a História como grandes reformadores que tentaram proporcionar melhores condições de vida às camadas mais pobres da sociedade romana. O século XX, tão sensível às questões sociais, elevou-os à condição de mártires em prol de um mundo mais justo e fraterno. A opinião dos seus coetâneos, porém, dividia-se entre os que os consideravam demagogos com aspirações à realeza, e aqueles que os viam como defensores da plebe romana e dos oprimidos de toda a Itália.

Netos do grande Cipião, o Africano, vencedor de Aníbal, e filhos de Tibério Semprónio Graco, um senador conservador que se notabilizou no governo da Hispânia, Tibério e Caio Graco pertenciam a uma das principais famílias da nobreza plebeia. Como não eram patrícios, podiam aspirar ao cargo de Tribuno da Plebe. Essa era, aliás, uma forma usual de os jovens das grandes famílias plebeias darem início às suas carreiras políticas.

Os optimates dominavam o Senado que, na oligárquica república romana, era o orgão responsável pelas nomeações para as principais magistraturas do Estado, como o consulado, a questura e o censurato. A excepção era o importante cargo de Tribuno da Plebe, uma magistratura destinada a defender os interesses da classes populares. Os tribunos eram eleitos pelos plebeus, gozando de importantes prerrogativas: poder legislativo (podiam criar leis, mesmo com a oposição do Senado), inviolabilidade da sua pessoa (imunidade total durante o exercício do cargo), e poder de veto de todas as decisões do Senado. Os Gracos, embora pertencessem à nata da aristocracia romana, foram tribunos da plebe com preocupações sociais.

O primeiro a ocupar o cargo foi Tibério (163-133 a.C.), o irmão mais velho. Acusado de pretender cingir o diadema, foi assassinado por um grupo de senadores, nas escadas do Capitólio (um pouco à semelhança do que aconteceria a César). Cipião Emiliano, seu cunhado, terá aprovado (ou até participado) na conjura para o matar. Anos depois, e não obstante os pedidos da mãe para não enveredar pela carreira política, o seu irmão Caio (158-121 a.C.) seguiu-lhe os passos. Caiu igualmente assassinado, na sequência de um célebre episódio: quando se discutia se procedia à eleição dos novos tribunos da plebe, Caio Graco terá levado a mão à cabeça, querendo com isso dizer aos seus partidários que as suas vidas estavam em jogo. Se perdessem a reeleição, seria o fim. Todavia, o gesto foi mal interpretado pelos seus opositores, que prontamente o acusaram de desejar a coroa. Levantou-se imediatamente um violento tumulto, durante o qual Caio Graco caiu assassinado, juntamente com três mil dos seus seguidores.

Entre o ano 133, quando Tibério Graco se tornou Tribuno, e o ano 121 a.C., data do assassínio de Caio Graco, os dois irmãos tentaram pôr em prática as seguintes medidas:

- Tentaram fazer uma reforma agrária, distribuindo terras em Itália (do chamado ager publicus, ou seja, património do Estado) pelos plebeus de Roma. Obviamente que essa medida contou com a oposição dos grandes latifundários.

- Coisa inédita até então, tomaram iniciativas no âmbito da política externa: o rei Átalo III de Pérgamo, recentemente falecido, tinha legado o reino ao Povo Romano. Os Gracos fizeram aprovar uma lei segundo a qual o tesouro do rei Átalo seria investido na aquisição de alfaias agrícolas para uso dos plebeus e camponeses a quem as terras de Itália estavam a ser distribuídas.

- Retiraram aos patrícios o poder judicial, estipulando que os júris dos tribunais seriam doravante constituídos por cavaleiros (equites) e patrícios em percentagens iguais. O que acontecia até então era que, independentemente da gravidade de uma acusação, um patrício podia sempre contar com a benevolência de um jurí constituído pelos seus semelhantes, que por sua vez esperariam igual solidariedade da sua parte, em situações análogas.

As reformas do Gracos suscitaram a oposição dos patrícios, que governavam Roma desde o tempo dos reis etruscos.

Daí em diante e até ao advento do Império (o regime do principado), com César e Augusto, Roma seria dilacerada por constantes guerras civis entre optimates e populares.

Para a História ficou também a sua mãe, a célebre Cornélia. Filha de Cipião, o Africano, vencedor de Aníbal, foi dada em casamento a Tibério Semprónio Graco, que era na altura um dos principais rivais de seu pai, juntamente com Catão, o Censor. Tornou-se um símbolo de estóica abnegação, pela forma digna como suportou a perda dos filhos. Até à morte, já numa respeitável velhice, Cornélia foi adorada e respeitada por toda a Roma - inclusivé pelos senadores que lhe mataram os filhos.

C.J.F.

Quando as pedras falam... (2)

O estudo da viação romana é uma das temáticas preferidas dos investigadores da civilização clássica em Portugal. O inventário das calçadas e das pontes e a definição do traçado das primitivas estradas romanas têm deslumbrado inúmeros eruditos e curiosos. Esta análise deve, no entanto, pautar-se pela prudência e pelo recurso constante a uma diversidade de fontes, de modo a delinear correctamente a primitiva rede viária do território.
Grande parte do conhecimento actual deve-se ao achado e estudo dos marcos miliários. Nestas colunas de pedra com inscrições latinas gravadas é relembrado o nome do Imperador promotor e é assinalada a distância, em milhas terrestres, ao núcleo urbano mais importante ou ao limite fronteiriço mais próximo. O seu número ascende em Portugal a cerca de 300 exemplares, descobertos sobretudo a norte do Douro. A análise da sua distribuição geográfica e do teor dos textos epigráficos marcados nesses padrões viários faculta-nos diversas informações, suprindo as limitações das fontes literárias.
Basta o achado dum destes marcos para considerar a passagem duma via romana nas imediações. No entanto, relembramos que se conhecem casos de deslocações profundas, do primitivo local de origem, que podem iludir os investigadores. Um miliário conhecido e descrito no século XVI em Santo Estevão (Sabugal) esteve desaparecido durante séculos e só foi redescoberto no Sabugal, a 8 km de distância, por Fernando Patrício Curado



A coincidência entre a anterior leitura e a nova observação do padrão permitiu-lhe constatar que se tratava da mesma epígrafe. A sua releitura evitou que se pudessem estabelecer conjecturas viárias erróneas.
Os marcos miliários balizavam as vias mais importantes, talvez não de forma sistemática, milha a milha, mas apenas nos pontos mais relevantes, junto às cidades e próximo dos limites territoriais. Esta marcação era também sucessivamente repetida por cada novo Imperador. É o que parece ter sucedido entre Belmonte, Valhelhas e Famalicão onde foram identificados cerca de 11 miliários pertencentes ao mesmo itinerário.
Porém, em outras estradas romanas estes monumentos escasseiam de forma estranha. No território de Pinhel, Trancoso, Mêda, Almeida e Castelo Rodrigo, não está registado o achado de miliários. Apenas no concelho do Sabugal foram encontrados dois marcos e entre a Capinha (Fundão) e a Ponte de Alcântara (Espanha) outros três. A importante via entre Ciudad Rodrigo e Salamanca é também assinalada apenas por um exemplar isolado.
Porque não aparecem os miliários das restantes vias que atravessavam a Beira interior? Terão sido apenas colocados em sítios pontuais e em eixos viários específicos? Deve-se à falta de investigação e de prospecção? Haverá ainda peças à espera de serem descobertas e aguardando a passagem dum arqueólogo pelo lugar?
Sempre que alguém encontrar uma coluna de granito com estranhas letras gravadas, pode seguramente estar perante um achado fabuloso que os investigadores tanto procuram. Próximo deverá passar uma estrada romana.
M.C.O.

segunda-feira, março 22, 2004

PEDIMOS DESCULPA a todos pela não actualização da coluna de links da direita. Estamos ainda a fazer uma listagem de sites de qualidade, e de bibliografia sobre a Roma Antiga (incluindo obras de ficção), que possamos recomendar a todos aqueles que nos visitam. E claro, faltam ainda as ligações para todos os amigos que nos têm linkado ou referido de forma bastante simpática. A esses, os nossos sinceros agradecimentos.

C.J.F.




PERSONAGENS (IV): CAIO MÁRIO Caius Marius provinha de uma família de humildes camponeses de Arpino, no Lácio. O facto de não ter origem genuinamente romana, e de ser apenas um soldado raso que subiu pouco a pouco – mercê da suas extraordinárias capacidades militares – valeu-lhe o desprezo da aristocracia romana, os optimates. Nascido em 157 a.C., destacou-se no cerco de Numância (133 a.C.), ascendendo na carreira militar de forma fulgurante, pela mão do célebre Cipião Emiliano, que via nele um soldado brilhante.

De seguida enveredou pela política, sendo eleito Tribuno da Plebe em 118 a.C., e Pretor três anos mais tarde. Foi depois Governador da Hispânia Ulterior (que englobava a Lusitânia), onde enriqueceu graças às minas de prata da província. Além disso, ficou célebre a forma rápida e eficaz com que limpou a Hispânia do bandoleirismo endémico que então a afectava.

Em 109 a.C., sendo já um general de renome, foi enviado para a Numídia (actual Argélia) como lugar-tenente de Cecílio Metelo, aristocrata romano a quem fora concedido o comando da guerra contra Jugurta, que usurpara o trono daquele país. Mário tinha já intenções de se candidatar ao consulado, e quando pediu ao seu superior a necessária autorização para regressar a Roma de modo a poder disputar as eleições (107 a.C.), este respondeu-lhe com uma frase que ficaria na História, e que mostra bem o desprezo dos patrícios pelos plebeus, com quem não queriam partilhar o poder político: “poderás regressar a Roma quando o meu filho tiver idade para disputar o consulado”... o mesmo seria dizer que Mário só regressaria a Roma quinze ou vinte anos depois, pois o jovem Metelo era ainda uma criança. No entanto, Mário conseguiu autorização do Senado para regressar a Roma, não obstante os entraves colocados por Metelo, que chegou a enviar agentes para atrasarem Mário durante a viagem. Estes incidentes estariam na origem da longa rivalidade entre os dois homens, que mais tarde culminaria no desterro de Metelo (101 a.C.).

Mário venceu as eleições para Cônsul e nessa qualidade assumiu o comando da guerra contra Jugurta. Retirou assim o comando ao seu rival, que regressou a Roma verdadeiramente humilhado.

Jugurta, o rei númida que Metelo não conseguira vencer, era um estratega brilhante. Foi talvez o último soberano indígena que esteve à altura dos generais romanos (Mitrídates Eupator, por exemplo, era um militar medíocre). Embora tenha conseguido alguns êxitos, Mário depressa percebeu que nunca obteria uma vitória total, pelo menos a curto e médio prazo. Aliás, ele e Jugurta eram conhecidos (se não amigos) desde o cerco de Numância, onde serviram juntos sob as ordens de Cipião Emiliano. E ambos estavam cientes dos dotes militares de cada um deles.

Optando por métodos pouco convencionais, o novo comandante em chefe venceu Jugurta graças a um estratagema orquestrado por Sila (ver "Personagens I"), então seu lugar-tenente, que conseguiu que o sogro do númida o entregasse aos romanos.

Já de regresso a Roma, Mário teve ainda que enfrentar os Cimbros e Teutões, povos germânicos que invadiram a Gália e o Norte de Itália. Em 105 a.C., quando Mário estava ainda em África, estes bárbaros obtiveram uma grande vitória em Arausium (Orange), em que tombaram mais de sessenta mil legionários. Foi a maior derrota romana desde Canas, e toda a Itália tremia de medo face ao invasor vitorioso, cujo exército contava com mais de 750 mil homens (!). Vindo de África com as suas legiões, Mário esmagou-os em duas grandes batalhas, que constituem feitos militares sem comparação na história romana. Estas vitórias sobre os bárbaros valeram-lhe o título de “Terceiro Fundador de Roma”.

Para fazer face às novas ameaças, Mário pôs em prática uma extensa reforma do exército romano. Alterou a forma de organização das legiões, recrutou proletários e instituiu um exército permanente, perante o olhar chocado da facção conservadora do Senado. Além disso, inaugurou a prática de distribuir terras pelos seus veteranos, o que mais tarde permitiria a homens como Sila, Pompeu ou César manter o Estado como refém das suas respectivas exigências e vontades.

Depois da revolução falhada do tribuno Saturnino (101 a.C.), um agitador que havia apoiado momentaneamente, Mário retirou-se da vida política. Em 88 a.C., porém, manobrou no Senado de forma a retirar a Sila o comando da guerra contra Mitrídates do Ponto. Embora tivesse 70 anos, o velho general queria o comando da guerra. E com o apoio de um tribuno da plebe, conseguiu-o. Mas Sila, que era o cônsul desse ano, não aceitou a decisão do Senado e voltou a Roma com o seu exército, ocupando a cidade. Mário fugiu para o exílio, do qual só regressaria quando Sila embarcou para o Oriente. Quando Mário voltou à cidade, à frente de um exército de gladiadores e escravos fugitivos, assumiu o consulado juntamente com o republicano Cina (87 a.C.). Mas este foi incapaz de deter a carnificina que os partidários de Mário fizeram na cidade, matando todos aqueles que não estavam nas boas graças do ditador. Uma pitonisa síria tinha-lhe afiançado, nos tempos da Numídia, que seria cônsul por sete vezes, coisa inaudita até então. E, realmente, acabou por sê-lo, ainda que por pouco tempo. Velho, doente e louco, Mário morreu 13 dias depois de ter assumido o seu sétimo consulado. E Sila voltaria a Roma poucos anos mais tarde, reprimindo de forma extremamente dura os partidários da facção popular.

Resta acrescentar que Mário era tio de César, uma vez que desposara Júlia, irmã do pai deste. César fez uso deste parentesco para congregar em torno de si a numerosa facção popular. Além disso, Mário era primo afastado de Cícero, também originário do Arpino. Mas como Cícero queria cair nas boas graças dos poderosos optimates, este parentesco era deveras incómodo.

C.J.F.

Algumas evoluções do exército romano-II

Claro que por vezes havia excepções e em situação de emergência recrutava-se quem estava disponível; como exemplo, Marco Aurélio recrutou duas legiões em Itália depois de um desastre porque precisava de tropas urgentemente; por vezes as unidades eram literalmente “arrebanhadas” num local da fronteira sem se preocupar com os elevados graus de exigência habituais. Marco Aurélio numa situação de aflição, chegou ao ponto de comprar escravos e gladiadores e pô-los a combater; essa tradição já vinha da república. Normalmente o prémio era a liberdade e a cidadania para os sobreviventes.
Quando chegamos ao reinado de Nero (assassinado em 69 DC), só metade dos legionários era originária de Itália; a outra metade era já constituída por
Colonos, pois pela amostra da onomástica que sobreviveu, vê-se que a maioria eram mesmo descendentes de oriundos de Itália. Como é que se vê isso? Bem, quando um auxiliar era desmobilizado e adquiria a cidadania, ele adoptava o nome do imperador da época para nome de família (ou do governador por vezes) e esse nome passava para os seus descendentes. Como muitos tinham o hábito de colocar nos seus túmulos uma estela com o seu nome, e breve descrição de vida (de onde vieram, anos de serviço, condecorações), os arqueólogos adquirem muita informação estatística sobre esses soldados. E consegue-se detectar há quanto tempo uma família é cidadã pelo nome imperial que tiver; se tiver um nome vulgar, é porque provavelmente são descendentes de uma família italiana comum que emigrou. Assim se consegue ver que no séc. I e II os soldados são a princípio maioritariamente italianos, depois descendentes a viver em colónias e finalmente soldados romanizados. Vemos também que o ocidente era aquele que fornecia mais soldados habitualmente (é normal, era mais pobre e considerado selvagem), vindo a princípio da Ibéria, Africa e Gália, muito pouco da Bretanha; depois a Ilíria e Dalmácia começam a fornecer soldados em abundância. No oriente, o Egipto sempre forneceu os seus soldados para defesa estritamente local (contra beduínos). As outras províncias forneciam soldados para as várias províncias. Infelizmente o número de elementos que sobreviveu é parcelar e tem de ser visto com muitas cautelas (até que ponto, alguns milhares de estelas sobreviventes são significativos? O caso das tropas é Africa e Egipto é bem conhecido devido à excelente conservação de registos devido ao clima). De qualquer modo, a arqueologia permitiu responder a questões que não passavam de debate teórico no séc. XIX por os textos clássicos não se preocuparem com esses assuntos
Q.F.M.

domingo, março 21, 2004

Quando as pedras falam… (1)

Os assuntos relativos à morte e ao enterramento dos defuntos ocuparam sempre, entre os romanos, um lugar importante. As suas preocupações com os falecidos eram notórias, sobretudo no cuidado demonstrado com o tipo de monumento e com o epitáfio que lhes perpetuava a memória.
A morte inquietou sempre o Homem, desde tempos recuados, e também os romanos manifestaram o mesmo sentimento perante ela. O estudo e a análise destes textos funerários constituem uma fonte imprescindível para a compreensão das mentalidades e atitudes dos romanos perante a morte. Eles consideravam-na algo de terrível, por ser a única certeza humana. Tal é possível observar na expressão patenteada no epitáfio do túmulo de Valério Avito, encontrado em Conimbriga (Fouilles, II: 71) que diz: «mors omnibus in stat» - “a ameaça da morte paira sobre todos nós”.

Não era só a morte que pairava sobre os defuntos, mas também a terra podia ser uma carga demasiado insuportável. Por isso, as lápides sepulcrais ostentavam geralmente um dito final: «Hic situs est. Sit tibi terra levis» - “Aqui jaz. Que a terra te seja leve”.

Era também próprio entre os romanos, colocar saudações escritas nos epitáfios. Os defuntos saudavam os vivos e insistiam, desta forma, em partilhar o seu mundo. Não sabemos qual o significado implícito nestas saudações, talvez a reverência pela morte ou então uma forma de apaziguar aos vivos o terror pelos mortos.
O que é certo é que expressões como ave, salve e vale, empregues na linguagem oral, eram também gravadas nas saudações escritas dos túmulos, como por exemplo «ave et vale» - “Adeus e passa bem”.
Por vezes estas saudações vão-se tornando mais complexas, procurando especificar agora que se cumprimenta quem continua vivo: «valete superi» (inscrição de Cádiz). Algumas são mais incisivas e saúdam mesmo aqueles que leram o epitáfio: «lege et vale» "Lê e Passa bem!" (inscrição do distrito de Castelo Branco), ou «venisti ave legisti vale» “Olá. Chegaste e leste. Passa bem!” (inscrição de Ourém), ou até «tu qui legis ave, perlegisti vale» “Adeus leitor. Por teres lido por inteiro, passa bem!” (inscrição de Idanha-a-Velha).
Também se encontram missivas dedicadas àqueles que deram atenção ao monumento funerário e pararam alguns minutos para o olhar: «salve hoc monumentum visitum venis vale» "Adeus a quem veio visitar este monumento. Saúde lhe seja dada!» (inscrição de Cartagena) ou «bene sit tibi viator qui me non praeteristi» "Fica bem, tu viajante que não me esqueceste!» (inscrição de Tarragona).
Verificamos que há um pedido constante ao transeunte para que leia o epitáfio do defunto, saudando este, aquele que o faz ou dando até um resposta à saudação que lhe dirija qualquer transeunte: «avete vos viatores et bene valete» "Passai bem, vós viajantes e saúde!" (inscrição de Cáceres, onde se supõe que o monumento estaria situada junto à estrada).

É também nestes monumentos funerários que se patenteava a última homenagem aos defuntos, onde se demonstrava a ternura e o carinho da perda desse ente querido, por parte dos sobreviventes. Temos o caso de Nebullo, que dedica à sua companheira Marta: «Flevi, Martha, tuos extremo tempore casus ossaque composui. Pignus amoris habes» (“Chorei, Marta, o doloroso fim dos teus dias e enterrei os teus ossos. Aceita esta prova do meu amor”). Quanta emoção não provoca esta mensagem ao seu leitor, mesmo dois mil anos depois de ter sido gravada numa lápide. São expressões como esta, transportando grande carga sentimental, que nos trazem uma quantidade de informações sobre as vivências e as atitudes dos romanos e que valem muito mais que outros objectos arqueológicos frios e despidos de calor humano.

Fontes:
ENCARNAÇÃO, José d’ (1997), Introdução ao estudo da epigrafia latina, 3.ª ed., Coimbra.
FERREIRA, Ana Paula (1996), «Saudações do Além entre os romanos», Conimbriga, 35, Universidade de Coimbra, p. 107-127. a, p. 107-127.

M.C.O.

sexta-feira, março 19, 2004




PERSONAGENS (III): CATÃO DE ÚTICA (Marcus Porcius Cato - 95 a 46 a.C.) foi uma importante figura da história romana. Defensor acérrimo da mos maiorum e conservador fanático, foi um destacado líder da facção dos boni e um dos maiores inimigos de César. Bisneto de Catão, o Censor, herdou as tendências (e paranóias) deste último, quer no que diz respeito à vida pública como à sua intimidade.

Ao longo da História, muitos foram os que confessaram admirar Catão. Por exemplo, os Pais Fundadores dos EUA viram nele um ardoroso combatente da liberdade, que preferiu suicidar-se (na cidade de Útica, de forma particularmente dolorosa, diga-se) a ter que receber o perdão de César, o homem que ele mais odiava.

Não admiro Catão; era mesquinho, vingativo, rancoroso e invejoso. Simboliza todos aqueles que, por vaidade pessoal, incompetência e falta de visão, tudo fazem para impedir a mudança. Creio que Catão defendia a tradição - simplesmente por ser tradição - e não a liberdade. Esta é, contudo, uma opinião pessoal, da qual outros certamente discordarão.

Plutarco refere o seguinte, a respeito de Catão:

"It is said of Cato that even from his infancy, in his speech, his countenance, and all his childish pastimes, he discovered an inflexible temper, unmoved by any passion, and firm in everything...to go through with what he undertook. He was rough and ungentle toward those that flattered him, and still more unyielding to those who threatened him. It was difficult to excite him to laughter, his countenance seldom relaxed even into a smile; he was not quickly or easily provoked to anger, but if once incensed, he was no less difficult to pacify." [versão inglesa]

Os Romanos tinham um célebre dito a respeito desta curiosa personagem: "A causa vencedora apraz aos Deuses; a vencida a Catão".

C.J.F.

AGRADECIMENTOS Obrigado aos Meninos de Ouro, ao Jorge e a todos os outros que, de forma bastante simpática, se têm referido a este novo projecto. Avé!

C.J.F.

quinta-feira, março 18, 2004

Algumas evoluções do exército romano
O exército de Augusto (faleceu em 14 d.C.), era com algumas excepções de origem italiana. Eram proletários descendentes de pequenos proprietários que tinham ficado arruinados devido por um lado à concorrência dos produtos agrícolas mais baratos dos territórios conquistados (que usavam mão-de-obra escrava) e por outro as guerras com o seu contínuo recrutamento de trabalhadores que desorganizava a produção. Dera-se assim uma concentração nas mãos de alguns grandes proprietários. Esses soldados sem outro objectivo além de enriquecer com as pilhagens e a atribuição de uma terra terminado o seu período de serviço (uma vintena de anos), eram bastante voláteis na sua fidelidade.
Essas tropas iriam ser bastante importantes (como se aprende já na escola primária) no processo de romanização. Iriam ser libertadas do seu serviço numa colónia distante (Península Ibérica, Gália, Africa), recebendo uma propriedade e divulgando o seu latim. De seguida um ou mais filhos iriam seguir as pisadas do pai ingressando no exército (normalmente por tradição familiar, embora razões económicas pesassem também; a documentação ainda é muito escassa nas motivações), sendo assim filhos de cidadãos romanos de origem italiana, mas já não italianos, eles próprios. Mas este não seria o único grupo de cidadão a entrar no exército. Com Augusto surge o hábito de organizar as unidades auxiliares compostas por não cidadãos (normalmente os recrutas eram de zonas relativamente bárbaras e mais bélicas) e organizá-las de forma semelhante às legiões; para recompensa-los de um bom serviço, é-lhes concedido por vezes a nacionalidade romana terminado o período de alistamento, hábito que umas décadas depois se iria tornar prática obrigatória. Ora esses soldados iriam também ser importantes na divulgação da romanização, já que divulgariam o latim aprendido no exército; os seus filhos seguiriam também para o exército, mas como legionários, já que eram filhos de cidadãos. Todos eles deviam saber pelo menos ler, falar latim que se compreendesse, obedecer a uns requisitos mínimos físicos, não terem qualquer condenação por crime; podemos ver que o grau de exigência era elevado. Era possível (quando era feito o recrutamento obrigatório), pagar a alguém que efectuasse o serviço com o substituto, desde que ele fosse considerado elegível; se um escravo fosse escolhido, as penas eram severas. Existia uma preocupação de manter um exército de qualidade.
QFM

terça-feira, março 16, 2004




OS IDOS DE MARÇO O Abrupto e a Bomba recordaram o assassinato de César, ocorrido a 15 de Março do ano 44 a.C.. Da minha parte, e como que a assinalar a efeméride, recordo esta personagem central na história da Roma Antiga e da própria Europa.

Dois mil anos depois da sua morte, César (Caius Iulius Caesar – 100 a 44 a.C.) continua a dividir opiniões. Muitos consideram-no um homem obcecado pelo poder, capaz de tudo para o atingir. Vêem-no como um inimigo da liberdade, um general que derrubou a república romana e instituiu a tirania. Eu, contudo, admiro César pela sua genialidade, coragem e ousadia.

A República que César derrubou não era propriamente uma democracia. Algumas dezenas de famílias aristocráticas – tanto da nobreza patrícia como da nobreza plebeia - controlavam a vida política e económica de Roma, sendo igualmente os principais beneficiários das grandes conquistas do séc. II e I a.C., pelas quais se tornaram proprietárias de gigantescos domínios fundiários na Itália, África e Hispânia. As províncias eram exploradas de forma brutal pelos governadores nomeados pelo senado; não tendo de prestar contas a ninguém, estes procônsules viam as províncias como possessões pessoais que sugavam até ao tutano. Ao fim de contas, a libertas que Bruto e Cícero tão apregoavam era o direito dos poderosos usarem as leis e as instituições em seu próprio proveito.

A enorme extensão do império tornava necessária a instauração de um poder central forte. O império não podia continuar a ser dirigido por um senado dividido por violentas facções rivais e sacudido por sangrentas guerras civis. Este estado de coisas tornava Roma extremamente vulnerável face aos bárbaros, como se pôde ver pela invasão dos Cimbros e Teutões (104 a.C.), que quase destruiu o império.

É verdade que César cometeu actos cruéis: os massacres dos lusitanos (que acabaram definitivamente com a resistência destes ao domínio romano), e das tribos belgas e gaulesas; a mutilação dos dois mil defensores da fortaleza gaulesa de Uxoledonum, para dar o exemplo aos restantes combatentes gauleses; e a execução de Vercingetórix, depois do seu triunfo. No entanto, e por mais condenáveis que nos pareçam tais actos, a verdade é que César agiu conforme a mentalidade da época, dando ao mesmo tempo provas de grande generosidade, honradez e magnanimidade. Recusou decretar proscrições, amnistiando todos os partidários de Pompeu, à excepção dos que, depois de perdoados, pegaram novamente em armas contra ele. Reabilitou os filhos dos proscritos de Sila. Promulgou leis a favor do povo, com a criação de colónias no ultramar para veteranos das legiões e proletários das cidades. Não perseguiu os adversários políticos, por entender que a oposição era necessária para aperfeiçoar o seu governo. Concedeu a cidadania integral aos italianos, tornando-os iguais em direitos e deveres ao habitantes de Roma. Obrigou os governadores provinciais a prestar contas pelos seus mandatos. Pôs em marcha um vasto programa de obras públicas, tanto em Roma como nas províncias.

Do ponto de vista militar, César foi um comandante brilhante. A rapidez com que se deslocava, a consideração que demonstrava pela vida dos seus soldados (chorou os quinhentos homens que perdeu em Gergóvia), e a ousadia das suas campanhas fazem dele um dos melhores generais de sempre. As vitórias de Alésia, Farsália, Alexandria e Munda revelam que a vitória não depende do número ou da logística, mas da capacidade dos comandantes e da qualidade e motivação das tropas.

Paradoxalmente, ao assassinarem César, os conspiradores dos Idos de Março acabaram por dar ainda mais força ao cesarismo. A guerra civil que se seguiu permitiu a instituição do Principado e pôs fim a cinco séculos de república aristocrática. Augusto e os seus sucessores levaram o cesarismo ao extremo, suprimindo as liberdades públicas e instaurando um regime monárquico sob uma fachada republicana.

C.J.F.

Como fundar uma idade de ouro de um Império depois de ter subido bajulando os governantes e denunciando os amigos.


Marcus Cocceius Nerva nascido em 30 AD como privado (para quem leu “Eu, Cláudio”, era neto do Nerva companheiro de Tibério em Capri). Era de uma família consular e senatorial. Levou uma vida relativamente apagada até ter ajudado a denunciar a famosa conspiração de Piso contra Nero que o encheu de honrarias como recompensa (adiando um pouco mais a morte desse monstro). Com a morte deste e a guerra civil em 68 “colou-se” a Vespasiano e serviu-o fielmente recebendo cargos. No reinado do seu filho mais novo Domiciano, voltou a servir de delator numa conspiração de um governador, recebendo mais recompensas (o imperador acabaria por ser assassinado devido às execuções sumárias que ordenava). E quando ele foi morto em 96, embora Nerva fosse já idoso, sem herdeiros ou apoios militares significativos, um senador com laços ao regime odiado, foi aclamado imperador. Menos de um ano depois, a guarda pretoriana que adorara Dominiciano, revoltou-se e impôs uma série de condições ao velho imperador. Este teve de ceder mas para evitar que tal situação se repetisse, nomeou como seu sucessor o vitorioso governador da Germânia- Trajano, garantindo o apoio das legiões deste como contra-peso aos pretorianos, dando-lhe maior espaço de manobra. Começou assim o hábito de escolher como sucessor, não parentes de sangue (que dera resultados desastrosos nas dinastias anteriores), mas sim pessoas capazes: começava a dinastia Antonina que seria a mais próspera de Roma. Em 98, falecia, sendo divinizado.
Como governante Nerva manteve a política dos seus predecessores: economia nas finanças, evitar extravagâncias, preocupação pela população; evitou hostilizar o senado (afinal ele vinha de lá), e permitiu a perseguição dos delatores por parte do senado que muito sofrera com eles, mas governou sobretudo com os quadros que vinham dos Flávios, sem restabelecer o senado nas suas prerrogativas (mas seria de facto possível? O senado só recupera poder no final do império com a desagregação da autoridade imperial).
Q.F.M.