Roma Antiga

Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.

quarta-feira, agosto 25, 2010

Marco Aurélio
Li uma biografia do Imperador Marco Aurélio. Feita por um jornalista, tinha um estilo agradável e abordava diferentes temas, mas tinha alguns defeitos que para mim são fatais.
O livro começa por apresentar uma breve história de Roma desde Augusto, assim como as suas instituições e economia (sempre útil). Segue depois com a contextualização da família de Marco Aurélio e o que levou à sua ascensão. Imaginem a minha surpresa ao ver Trajano tratado por “esse homossexual bêbado”. Perdão? Adriano é ainda pior tratado: é descrito como um verdadeiro tirano, paranóico, vaidoso, medíocre, psicopata. Mas acho que o que irrita mais o autor é a sua homossexualidade assumida (é verdade que isso foi ridicularizado pelos romanos, mas por outros motivos). Quando passamos a Antonino, o autor não se cansa de cobri-lo de elogios: expulsou os homossexuais da corte, levava uma vida modesta, respeitava o direito de opinião (alguns dos insultos que ele aguentou, são dignos de um político em campanha eleitoral). Únicas falhas reais, foi não dar formação militar a Marco Aurélio, tolerar o incapaz Lucius Verus (apesar de admitir que nunca foi um monstro do calibre de Nero ou mesmo Cómodo), e ter evitado ao máximo as campanhas no exterior (na realidade, não foi bem assim, e o que sucedeu com os Marcomanos dificilmente se lhe pode atribuir).
Temos depois um grande capítulo sobre as diferentes correntes filosóficas, o estoicismo e “Os Pensamentos”. O autor da biografia é cristão, e obviamente o estoicismo perde em comparação com o cristianismo; mas Marco Aurélio é apresentado como alguém bem mais humano do que a filosofia que seguia.
Noutros capítulos são apresentadas as principais campanhas (os persas e os germanos) e todas as dificuldades que elas apresentaram, assim como a grande questão de apesar de Marco Aurélio ser uma excelente pessoa e extremamente competente, como não conseguiu resolver os problemas (o próprio autor responde, pois Marco Aurélio não tinha formação económica, nem meios humanos e técnicos para o fazer, portanto, usou o que pode para resolver a curto prazo).
Interessante é a questão de Cómodo e porque colocar esse filho no trono. Apesar da excelente educação que recebeu, ele mostrou que tinha no mínimo mau carácter (embora sem poder revelar-se completamente até ascender ao trono), e Marco Aurélio não o podia ignorar. Simplesmente, parece que este tentou ver alternativas. Colocou os seus dois genros como cônsules (uma espécie de teste como tinha sucedido com ele e Lúcio Vero) e eles embora fossem bastante competentes, falharam redondamente, pois deram-se muito mal e passaram o tempo todo a competir. Para considerar a sucessão de um deles, Marco Aurélio teria de ser obrigado a executar o seu próprio filho, executar o genro não escolhido e provavelmente a respectiva família. Perante medidas tão drásticas e incertas, acabou por optar pelo que parecia o mal menor e deixar o filho como sucessor.
Acompanhamos depois o reinado de Cómodo e as suas loucuras e depois o caos até Septimo Severo (e as carreiras de vários dignitários).
Para finalizar, é apresentada a influência do pensamento filosófico de Marco Aurélio na história: mínima na Idade Média, bastante importante no século das luzes e XIX, deliberadamente esquecida na actualidade (dado ter sido efectuada por um imperador de um estado imperialista, numa época que valoriza a multiculturalidade, não compensado assim o facto de ter sido escrita por um anticristão).