Roma Antiga

Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.

quarta-feira, março 24, 2004

Algumas evoluções do exército romano-III
No séc. II, com a paz e certa prosperidade, os italianos apenas querem ficar na guarda pretoriana (onde usufruem de um soldo mais elevado, prestígio de servir directamente o imperador, e claro poder), e as coortes urbanas, onde gozam as delícias da vida em Itália sem se aborrecer com a guerra. Os legionários são todos colonos. Mas um fenómeno importante começa a impor-se: os soldados que foram desmobilizados numa zona, casaram e ficaram aí a viver e os seus filhos alistam-se mas pretendem servir nessa zona, e não serem colocados noutra terras distante. Ou seja, as legiões de unidade móveis começam a tornar-se fixas, quase guarnições. Este fenómeno do recrutamento e defesa local, só ficaria completo com as reformas no séc. IV entre a divisão entre um exército estacionário e um móvel. Outro elemento, é o progressivo alistamento de cidadãos nas unidades auxiliares (porque os filhos de pais que tinham adquirido a cidadania pretendiam servir nessa unidade e não queriam ir para outro local). As unidades auxiliares vem as suas tropas perderem agressividade na medida em que as zonas que tinham sido anteriormente bárbaras (península ibérica, Gália), estavam a romanizar-se e a ficar mais civilizadas com os progressos da pax romana; vão-se esbater assim as diferenças com as legiões. De qualquer modo mantém-se sempre unidades mais flexíveis (para combate de escaramuça contra salteadores bárbaros), devido ao tipo de função que lhes é exigido. No séc. III devido às dificuldades de recrutamento, é estendida a cidadania a todos os homens livres, o recrutamento fica facilitado, mas vemos, que o critério deixa de ser a qualidade para ser a quantidade. Quanto às tropas auxiliares, vão lentamente ser preenchidas com bárbaros, até que em finais do séc. IV elas detêm o seu quase monopólio com as auxiliae palatinae, tornando-se a tropa de escol do império, em detrimento das legiões (é certo que treinadas e equipadas à romana). Claro que continuaram a existir tropas de elite romanas (da Dalmácia por exemplo).
Q.F.M.

P.S.
Aqui vai alguma bibliografia que usei para o assunto.
Le Boehc, Yann, L'armée romaine sous le haut empire, Picard, 2002
Webster, Graham, The roman imperial army of the first and second centuries, Adam & Charles Black, 1969
MacDowall, Simon, Late roman Cavalaryman AD 236-565, Osprey Publishing, 1995