Roma Antiga

Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.

segunda-feira, outubro 30, 2006

A religião Romana-III
Os primeiros sacerdotes eram obviamente os reis. A sua posição como mediadores entre os homens e deuses dava-lhes um carácter sagrado. Com a sua expulsão, foi criado um sacerdote (o rei dos sacrifícios) que herdava as suas atribuições religiosas, mas unicamente essas, dado o pavor que os romanos tinham de adquirir um novo rei. Entre a monarquia e os primeiros tempos da república foram sendo criados uma série de sacerdócios, dado que os romanos consideravam ser função do estado assegurar uma boa relação com os deuses O colégio das vestais era um dos mais famosos. Consagradas à deusa Vesta (uma deusa da terra), tinham de assegurar a manutenção de uma chama sagrada, e manter-se virgens durante o exercício do sacerdócio (o falhanço de uma destas condições, quaisquer que fossem os motivos dava pena de morte). Tinham imensos privilégios (doações, capacidade de perdoar condenados à morte, inviolabilidade das pessoas), e tinham uma independência pouco comum para as mulheres. A princípio, as vestais eram escolhidas unicamente nas famílias patrícias, mas com o tempo, o recrutamento estendeu-se aos plebeus.
Existia também um colégio de sacerdotes (os flâmines) que asseguravam o culto dos deuses oficiais (eram a princípio unicamente patrícios, sendo depois escolhidos também plebeus). Devido a um imenso conservadorismo, mesmo que as divindades deixassem de ser importantes para o estado era mantido o seu culto, sendo acrescentado um novo sacerdotes para novas divindades.
Os augures eram sacerdotes que adivinhavam o futuro através de uma série de sinais (quem se lembra de Astérix e o adivinho?), sendo escolhidos até ao princípio do império de entre famílias de origem etrusca. Todos estes sacerdotes faziam parte do colégio dos pontífices. E o cargo mais importante era claro o de Pontífice máximo (que era eleito até Augusto, e depois tornou-se apanágio dos imperadores, até estes renunciarem ao cargo, que passou a ser utilizado pelos Papas). Todos estes sacerdócios terminaram com a abolição do Paganismo por Teodósio em 391
O rei de Nemora é um caso: era um sacerdote de um templo de Diana que ascendia ao cargo assassinando o seu antecessor e colhendo. Mas o meu favorito é um sacerdote dos princípios da república. Cada vez que Roma queria entrar em guerra com um vizinho, enviava esse sacerdote com uma série de exigências (apresentadas como reparações pelas injustiças feitas ao povo romano) justas e que dizia que se não o fossem justas que a fúria dos deuses caísse sobre ele. Deste modo era provada a veracidade e boa fé dos romanos (e desculpado o derramamento de sangue na batalha), e autorizava as medidas mais severas contras os adversários depois da batalha (leia-se a pilhagem, massacre e violações). Mas isto dava um carácter sagrado e justo às guerras romanas, e era muito importante do ponto de vista psicológico para os soldados e a população, e tornava intolerável a possibilidade de negociações que não fossem em condições de vantagem por parte de Roma.
Q.F.M.

quarta-feira, outubro 11, 2006

A Religião Romana-II
Para além destes deuses oficiais do estado, os romanos tinham deuses (“espíritos” seria um termo mais correcto) para os comuns cidadãos. Os manes (antepassados da família) e os penates protegiam os lares e os membros da família. Cada membro da família tinha um génio (um espírito protector). Era dever dos membros da família honrar todos esses espíritos (com orações, libações e sacrifício de alimentos). Como era típico em Roma, a relação era mutuamente benéfica: o cumprimento dos rituais, deixava os espíritos satisfeitos (assegurando que não acontecesse nenhuma desgraça, assegurando prosperidade e saúde); se os homens se esquecessem da sua parte, os espíritos iriam vingar-se. Todo o lar deveria ter um pequeno altar (para os manes) ou estátua (dedicado ao génio). Em determinados locais, existiam também pequenos altares, onde poderiam ser efectuadas ofertas (em encruzilhadas, no campo, etc). Em vários episódios da série Roma, podem-se ver personagens a fazer pedidos a esses espíritos mais próximos dos homens do que os deuses oficiais.
Q.F.M.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Concurso de outubro
Para o mês de Outubro, o tema será a mulher romana que consideram mais fascinante (as regras são as mesmas do outro mês: dizem a preferência e porquê).
Q.F.M.

terça-feira, outubro 03, 2006

Vencedor do concurso
Bem, pode-se considerar que ganhou o imperador Juliano. Creio que a obra “Juliano” de Gore Vidal e uma certa aura romântica por ter tentado impor o paganismo foram factores decisivos (pelo menos para mim).
E cá vai o post sobre ele.
Juliano era sobrinho de Constantino o grande e nasceu em 331. Este decidiu dividir o império quando morresse pelos filhos e sobrinhos. Ora os filhos de Constantino tinham outras ideias e massacraram parte da família, só deixando Juliano e o meio-irmão Galo vivos (que foram poupados por serem crianças). Entretanto os filhos de Constantino foram morrendo: Constantino II às mãos do irmão Constante e este por sua vez por um usurpador, que acabou morto por Constâncio II. Várias tribos germânicas (nomeadamente os francos) aproveitaram a confusão para atacar a Gália e começaram a ocupar partes, enquanto lançavam expedições para mais longe.
Entretanto Juliano e o irmão estavam exilados, iam sendo sucessivamente educados por diferentes tutores na religião ariana no, que conseguira ilegalizar o credo de Niceia. Simplesmente para Juliano o que lhe sucedera na família, a presença de tutores pouco inspirados e a leitura dos clássicos acabaram por torná-lo impermeável à educação cristã (convertendo-o ao paganismo).
Constâncio II começou a sentir necessidade de colaboradores para governar porções do império e decidiu utilizar Galo como “César” no oriente (o que o tornava um subordinado de Constâncio que era “Augusto”, segundo o esquema criado por Diocleciano) casou-o com uma irmã e depois de um governo despótico, Constâncio livrou-se dele (354). Entretanto Juliano gozava de alguma liberdade e andava a viajar como estudante, seguindo mestres de filosofia (o neo-platonismo tinha várias variantes, desde filosofia pura e dura, até correntes místicas). Esse período terminou pois Constâncio chamou-o e nomeou-o César do Ocidente, com o controle da Gália (que estava um caos) e casou-o com outra irmã (355). Juliano passou o tempo em campanha a livrar-se das tribos germânicas e a tentar restabelecer o domínio romano. Embora a reunião de fundos fosse um problema (a Gália estivera anos a sofrer incursões bárbaras), tinha a vantagem das tropas locais serem aguerridas (quer os recrutas galo-romanos, quer os voluntários germânicos). Acabou por conseguir vencer sucessivas batalhas que restabeleceram a situação. Mas entretanto, Constâncio II que ia lançar-se numas expedição contra a Pérsia, exigiu as tropas de Juliano; as tropas deste revoltaram-se e aclamaram-no imperador. Juliano lançou-se para o oriente a toda a pressa para tentar vencer o primo antes que este conseguisse reunir tropas em número suficiente; mas a morte de Constâncio II (que o nomeara sucessor no seu testamento) impediu mais uma guerra civil (361).
Tornado imperador único, Juliano revelou-se imperador enérgico no pouco tempo que governou. Reduziu o pessoal assim como o aparato da corte. Mas o que tornou mais famoso, foram os ataques ao cristianismo. Este que se tornara praticamente a religião oficial, obtivera imensos privilégios (igrejas e sacerdotes isentos de impostos, donativos, etc), enquanto que os pagãos iam vendo a sua vida dificultada. Juliano cortou com os privilégios dos cristãos (mas garantindo a liberdade de culto a todos os grupos, niceianos e arianos), e começou a subsidiar novamente os pagãos.
Em 363 retoma a ideia de uma campanha contra os persas (a nemésis romana). A expedição a princípio correu bem, e venceu diversas batalhas. Mas as enormes distâncias envolvidas, e o falhanço na tentativa de conquistar a capital, Ctesiphonte (próximo de Bagdad), levou-o a decidir pela retirada. Num combate de retaguarda, acabou por ser ferido de morte. Com a sua morte terminava praticamente a dinastia fundada por Constâncio Cloro (dado que só sobrou uma filha de Constâncio II que casou com o imperador Graciano mas não deixou herdeiros). O império ficou também em sérias dificuldades, pois além das perdas de efectivos, material e dinheiro que a campanha implicou o seu sucessor Joviano teve de ceder diversas províncias para conseguir escapar com o que restava do exército. Também as medidas de Juliano no campo religioso foram abolidas (sem no entanto voltar-se ao rigor dos tempos dos filhos de Constantino durante uns tempos), e o cristianismo saído de Niceia iria progressivamente endurecer afirmar-se com a religião única.
Q.F.M.