Roma Antiga

Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005



O IMPERADOR FILÓSOFO Marco Ânio Vero (Marcus Annius Verus) nasceu a 26 de Abril do ano 121, sob o principado de Adriano, numa rica e distinguida família de origem hispânica. O seu avô, Cônsul por três vezes (caso raro naquela época), fora prefeito de Roma durante o reinado de Adriano.

O jovem Marco Vero recebeu uma esmerada educação, com ênfase na retórica e na
filosofia. Desde tenra idade que exibiu um ar culto e circunspecto, que lhe
valeu a atenção do imperador Adriano. O imperador reparou nele desde criança e pagou-lhe os estudos. Além disso, as honras que Adriano lhe atribuíu ainda durante a infência (por exemplo, o título de "Verissimus"), mostram que o imperador - sem filhos -, o via como um potencial sucessor.

Antes de morrer, no ano 138, Adriano nomeou sucessor o rico senador T. Aurélio
Fúlvio Boiónio Árrio Antonino (T. Aurelius Fulvus Boionius Arrius Antoninus), de 52 anos, com a condição de que este último adoptasse o jovem Marco Vero (bem como o filho de Ceiónio Cómodo, seu antigo co-imperador, Lúcio Aélio Cómodo).

O jovem Marco Vero, agora chamado Marco Aélio Aurélio Vero (Marcus Aelius Aurelius Verus), tornou-se assim herdeiro do principado, em conjunto com o também jovem Lúcio Cómodo.

O longo principado de Antonino foi um dos mais pacíficos e brilhantes de toda a história do Império Romano. Foi a época áurea da Pax Romana, durante a qual Marco Aurélio ascendeu todos os degraus do Cursus Honorum. Cônsul em 140 e 145, recebeu o poder tribunício (tribunitia potestas) em 147, talvez em conjunto com o império proconsular (imperium proconsulare).

Apesar da sua dedicação à carreira pública, Marco Aurélio não perdeu o contacto com a filosofia. Continuou a privar com filósofos e pensadores distintos, como Herodes Ático, Frontão, Epicteto e Aélio Aristides. O jovem César pertencia à escola dos estóicos, como comprova a sua obra “Pensamentos para mim próprio” (escrita em grego, com o título “Ta eis heauton”, e também chamada “Meditações”). Note-se que estes Pensamentos não foram escritos para serem publicados, mas sim como reflexão pessoal para o ajudar a enfrentar a adversidade com fortaleza e serenidade, tendo como temas a moral e o sentido da vida.

Quando Antonino finalmente faleceu, em 161, Marco Aurélio tornou-se imperador, em conjunto com Lúcio Cómodo. No entanto, Marco Aurélio era visto como o principal governante, uma vez que Lúcio era demasiado dado aos prazeres e à dissipação. O contraste entre o estóico Marco e o inconsciente Lúcio dava ao primeiro a autoridade moral necessária para governar quase sozinho. No entanto, caso raro na história dos Césares, o próprio Lúcio aceitava este estado de coisas e Marco, por seu turno, cuidava e protegia o seu co-governante. Um caso raro numa longa história de traições, assassínios e guerras civis. E quando Lúcio morreu, em 169, Marco Aurélio assumiu o poder sozinho.

Ao contrário de Antonino, Marco Aurélio não teve a sorte de ter um reinado pacífico. Foi forçado a empreender duas grandes guerras, ao longo dos seus vinte antes de reinado: primeiro contra os Partos, que venceu, e depois contra os Marcomanos do Danúbio (interrompida pela sua morte, pois o seu filho Cómodo concluiu um tratado desfavorável com os Bárbaros).

Marco Aurélio foi um governante consciencioso e justo – não apenas pelos padrões romanos -, e a historiografia romana dos séculos seguintes apenas o acusa de um grave erro: ter nomeado herdeiro o seu filho Cómodo, que viria a revelar-se um tirano ao estilo de Nero e Domiciano (embora, como estes dois, tenha sido alvo de intensas campanhas que visavam denegrir a sua imagem, por parte dos seus adversários).

Muitos consideram Marco Aurélio o último imperador do chamado "Alto Império". Quando ele morreu, em 180, em Vindobona (actual Viena), teve início um longo século de distúrbios, guerras civis e invasões estrangeiras - durante o qual a própria existência do Império esteve em causa -, e que só terminaria com a ascensão de Diocleciano e a instauração do regime "totalitário" do Dominado.

C.I.P.