Roma Antiga

Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.

terça-feira, setembro 26, 2006

A guerra dos Judeus-III
A parte final é apenas constituída pelo relato do cerco. Ora o comportamento das legiões em combate deixa muito a desejar. Por várias vezes os judeus fazem surtidas, conseguem atrapalhar as máquinas romanas que lhes lançavam projectos e chegam mesmo a atacar o próprio acampamento romano sem que estes se apercebam até estar a combater nas próprias paliçadas do acampamento; por vezes são as unidades romanas que se lançam em ataques sem ser ordenados e perseguindo até se colocarem em situações muito perigosas (claro que Tito o general romano aparece sempre para salvar a situação no último minuto). As tropas auxiliares ainda se portam de forma pior (e os aliados são os piores: o episódio dos esventramentos dos prisioneiros judeus por ter corrido o boato de que estes tinham engolido ouro). Ora tudo isto está muito longe da conhecida eficiência e disciplina romana. O exército romano não é uma máquina cega às ordens dos seus oficiais: sem chegar aos exageros das revoltas militares dos séc. II e III, vemos que o controle acaba por ser muito frouxo em situação de campanha prolongada e de dificuldades, a menos que o comandante tenha um imenso carisma e anos de convívio com as tropas (e mesmo aí…).
As tentativas de golpes de mão pelos romanos acabam só por funcionar quando as defesas judaicas estão demasiado enfraquecidas pela mistura de combate contínuo (provocando perdas e cansaço dos homens que não são substituídos) e bombardeamento pelas máquinas de assédio que destroem os sucessivos troços das várias cinturas de muralhas de Jerusalém.
Finalmente os romanos apoderam-se do templo e este é saqueado e queimado num acidente (?).
Algumas notas finais: o original foi escrito em grego (sem o dominar, Josefo conhecia essa língua). Ora o tradutor da edição francesa que li tentou ser o mais fiel ao original, o que significa que na maioria das vezes deparamos com termos gregos em vez de latinos (por ex. falange quando se refere a legiões),
Josefo está constantemente a referir-se às populações gregas no reino de Herodes (que eram uma boa metade). Ora duvido que o número de colonos de origem grega fosse tão elevada, devendo por isso referir-se a todos os não judeus (sinónimo portanto de pagão).
O seu livro é também bastante parcial: tenta mostrar o povo judeu como pacífico e favorável aos romanos com apenas alguns radicais que se impuseram pelo terror à população conduzindo ao desastre (além de passarem o tempo a guerrear-se entre si só se unindo contra os romanos quando já era bastante tarde, mas ainda assim aproveitando cada momento para atacar as facções rivais). Mas não deixa de apresentar a incompetência e corrupção de vários governantes romanos.
Q.F.M.

quinta-feira, setembro 21, 2006

A religião romana-I
É um assunto muito complexo, pois a religião romana modificou-se muito ao longo dos séculos, sofreu diversas influências e existem imensas lacunas no seu conhecimento, mas tentarei fazer uma apresentação.
Normalmente a religião romana costuma ser vista como uma mera cópia da grega (com nomes diferentes) acrescentados de alguns deuses orientais. Ora isso é confundir uma moda literária do final da república com a realidade.
Sendo os latinos um povo indo-europeu a sua religião tem imensas características comuns a outros povos desse grupo (celtas, persas, gregos, germanos). Só que muito cedo sofreu uma influência decisiva: a dos etruscos. Os romanos tinham no seu panteão uma tríade (Júpiter- deus supremo, Marte-deus da agricultura, e Quirino, um deus de que não se conhecem bem as atribuições), o que é comum aos povos indo-europeus. Ora Quirino era quase de certeza um deus de origem etrusca e Marte era-o também provavelmente (a menos que tivessem sido os etruscos a ser influenciados). Mais tarde por influência dos gregos, esta tríade foi substituída por Júpiter, Juno e Minerva (as últimas duas parecem ser de origem indo-europeia). Estes deuses oficiais (e numerosos outros como Jano, Neptuno, Plutão, Vesta) não tinham mitos como os gregos mas exerciam funções e deviam ser respeitados através do culto. Existiam diversos colégios de sacerdotes (os flâmines e as vestais eram os mais importantes) que existiam para assegurar esse culto que manteria os deuses satisfeitos e impediria que eles lançassem calamidades à cidade. Os deuses romanos eram bastante distantes por comparação aos deuses gregos com as virtudes e defeitos que os tornavam tão humanos: os de Roma cumpriam funções e eram de algum modo “pagos” para se manterem satisfeitos.
Ora esse carácter, faz com que os deuses romanos nunca tivessem sido “populares” na população (que tinham os génios, manes, e outros de que falarei mais tarde), o que a tornava alvo fácil a outros deuses. Mesmo assim, como era função do estado, o culto dos velhos deus romanos manteve-se até à proibição por Teodósio em 391.
Q.F.M.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Armas
Para quem gosta de equipamento militar existe um livro imprescindível: Roman military equipment : from the Punic Wars to the fall of Rome de M. C. Bishop and J.C.N. Coulston. Como o título indica vai desde as guerras púnicas (quando surgem os primeiros registos credíveis) até ao séc. V (se bem que para este período o livro é um pouco “magro”). Com esta obra qualquer pessoa consegue detectar os erros que aparecem nos filmes (desde equipamentos errados no período a pura e simplesmente completamente inventados). O problema é que se torna um pouco técnico, reservado aos fãs de história militar e arqueologia (é bastante denso).
São utilizadas 3 fontes: iconográficas, textuais e arqueológicas. Todas têm vantagens e inconvenientes.
As iconográficas são as mais acessíveis: qualquer pessoa pode ver as representações de tropas (ou pelo menos em livros) na coluna de Marco Aurélio. O problema é que muitas vezes as imagens são estilizadas ou idealizadas por artistas que nada sabiam de equipamento e que representavam “a olho” a realidade ou então de acordo com a mitologia (por ex: vestindo os generais como se fossem heróis das lendas gregas).
As textuais têm outros problemas: a da utilização de vocabulário que raramente é preciso (pelos autores da antiguidade). Um exemplo: supostamente os gládios (espadas curtas) foram substituídos pelas spathas (mais compridas) no baixo-império. O problema é que muitos autores antigos utilizam os 2 termos de forma indistinta ao longo de todo o império, ignorando-se o que é que eles se referem exactamente (uma vez que ambas as armas foram continuamente utilizadas).
Finalmente as arqueológicas. Estas têm a vantagem de ser peças reais. O problema é que são poucas e muitas vezes difíceis de datar. E muitas vezes uma determinada peça que não era muito utilizada pode dar-nos a ideia de ter tido uma importância maior do que teve na realidade por terem sido encontrados um número significativo devido a acontecimentos fortuitos (boa preservação num depósito). Claro que no caso de as fontes arqueológicas contradizerem as outras, dá-se a preferência às arqueológicas. Um exemplo: Vegetius (autor do séc. V) dizia que no seu tempo, as armaduras tinham deixado de ser utilizadas (os soldados não gostavam de ter o trabalho de andar com elas), e a iconografia assim o parecia indicar (de maneira que até nos jogos de computador as tropas do baixo império apareciam como sem armaduras). Ora na década de 70, algumas descobertas arqueológicas contrariaram essa ideia (parece que a ideia dos textos era mostrar as desvantagens das tropas romanas frente aos bárbaros, uma espécie de desculpa para os fracassos do presente, mostrando os soldados preguiçosos e desprotegidos). Se as armaduras foram encontradas (ou melhor, fragmentos), não se pode fingir que não existem.
De resto o livro é bastante completo: abarca uniformes (materiais, formato, cor), armas (de defesa, ataque e até armas de assédio), equipamentos (cintos, sandálias botins e meias).
Uma última nota: a versão que tenho é velhinha, mas saiu uma nova edição este ano com as descobertas mais recentes.
Q.F.M.

terça-feira, setembro 05, 2006

Concurso
Tive a ideia de fazer um concurso sobre figuras romanas. As pessoas votarão e depois indicarei o resultado escrevendo um post sobre a figura mais votada.
Para o mês de Setembro, a votação será sobre o imperador favorito dos leitores as (pessoas deverão deixar o seu voto na caixa de comentários). Agradecia também que deixassem um curto comentário sobre porquê da preferência.
Q.F.M.