Roma Antiga

Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.

terça-feira, junho 27, 2006

A literatura Latina do Final da República/Princípio do Império-VI
Marcial- Poeta da 2ª metade do séc. I. Escrevia epigramas escarnecendo as pessoas que detestava e troçava da sociedade em geral, e louvava os seus patronos.
Juvenal- Viveu no mesmo período. Também os seus escritos satirizam os romanos.
Tácito (56-117). Historiador romano que escreveu sobre os reinados dos imperadores a partir de Tibério e a vida de Agrícola, o general que conquistou a Bretanha. Infelizmente a maior parte da sua obra perdeu-se (só ficou parte de Tibério, Cláudio e Nero). Enquanto Suetónio toma claramente partido e preocupa-se com pormenores pitorescos e escabrosos, Tácito tenta ser mais imparcial apresentando o bom e o mau, mas sem ter grandes ilusões sobre várias das personagens (a defesa que faz sobre dos povos bárbaros que lutam pela sua liberdade enquanto que os civilizados vegetam numa servidão aos príncipes é notável).
A partir daqui a literatura romana tradicional perde vigor. Nenhum autor se destaca (Marco Aurélio escreveu em grego e diversos autores mesmo do ocidente vão escrever nessa língua) se exceptuarmos Tertuliano. O latim vai curiosamente recuperar importância literária só com os odiados cristãos no período do baixo império.

Entretanto notícias do mundo real: vou partir de férias, o que significa que até ao final do mês de Julho não poderei escrever nada (mas talvez o Filipe possa?). Portanto, desejo uma continuação de um bom trabalho/bons exames a quem a estiver nessa situação e boas férias para os restantes.
Q.F.M.

segunda-feira, junho 19, 2006

O recrutamento-II
Lentamente observa-se outra transformação. Para os habitantes do império que quisessem obter a cidadania (não a tendo pelo nascimento), existia o recurso de se alistarem nas coortes auxiliares, marinha, ou outra unidade do género; cumpriam 25 anos e recebiam a cidadania; os seus filhos seriam automaticamente cidadãos romanos (podendo entrar nas legiões se quisessem). Ora os auxiliares tinham o hábito de incorporar no seu nome de família o nome do imperador de quem tinham recebido a cidadania, passando o nome para os descendentes. Assim sabemos que legionários do séc. II e III com nomes de família imperiais (como Claudius, Flavius, Ulpius), são descendentes de indígenas que foram auxiliares; se não tem nomes de imperadores, é porque descendem de colonos romanos (ou receberam a cidadania no período republicano, mas isso fora há muito tempo). O que vemos é que no séc. I a esmagadora maioria dos legionários tem nomes comuns, alguns poucos a partir do séc. II tem nomes imperiais e sobretudo no séc. III mais de metade tem nomes imperiais (o édito de Caracala ajudou), o que mostra que para além dos descendentes dos colonos, os indígenas mais ou menos romanizados vão entrando nas legiões (os velhos testes de conhecimento de latim continuavam a aplicar-se). Mas em compensação, a qualidade do seu latim vai-se degradando, tornando-se num verdadeiro latim de caserna, acusado de ser incompreensível para os restantes cidadãos (presume-se para os cidadãos cultos).
Outro ponto importante da onomástica, é que no ocidente, os legionários mesmo que de origem indígena, adoptavam nomes completamente latinos, abandonando os velhos nomes. No oriente, adoptavam uma mistura de nomes latinos com gregos e semitas.
Outro ponto importante: apesar de tudo o que disse, os romanos eram muito flexíveis de acordo com as necessidades. Quando Varro “perdeu” as suas legiões, Augusto comprou escravos, deu-lhes a cidadania e formou legiões com eles (Marco Aurélio fez o mesmo mais tarde). Podiam ser utilizados em caso de necessidade escravos, libertos e estrangeiros como legionários (embora respeitando as formas legais). Mas nunca egípcios. Augusto tinha um enorme preconceito contra eles (nem para auxiliares os aceitava), e o máximo que lhes concedia era que depois de servirem na marinha (a arma com menos prestigio), durante 25 anos de serviço (a remar) recebessem o direito latino (que lhes permitia ir para os auxiliares, embora fossem já velhos). Mais um par de gerações a servir em várias unidades e lá conseguiriam tornar-se cidadãos. Ora mesmo um reles liberto ex-escravo de qualquer outra etnia que tivesse servido na marinha recebia a cidadania no final do serviço. Esta situação demorou algum tempo a mudar.
Q.F.M.

quarta-feira, junho 14, 2006

O recrutamento-I
Quando se pensa no exército romano pensa-se nos legionários vindo de Roma. Mas com o império as coisas foram-se modificando. Quando Augusto venceu Marco António (31 A.C.), as suas legiões eram esmagadoramente constituídas por italianos. Ou seja, gauleses do norte de Itália, samnitas, oscos e gregos do sul, latinos do lácio (com alguns romanos no meio) e etruscos do centro. Mas tinham a cidadania romana e já estavam razoavelmente romanizados.
Com o tempo eles foram sendo desmobilizados e receberam terras em Itália, na Península Ibérica e na Gália (onde foram um foco de romanização). O prémio ao completar o serviço era terras e o equivalente a 10 anos de salário (mais o que tinham amealhado à força, dado que parte do salário era guardado pelo estado que só lhes entregava no final do serviço). Essas tropas foram sendo substituídas por outras italianas, e lentamente pelos descendentes dos veteranos estabelecidos nas colónias. Quando chegamos a Nero (54-64 D.C.), os italianos são só metade, o resto vem das colónias (descendentes de veteranos romanos); chegados a Trajano (98-117 D.C.), os italianos já não dão tropas para as legiões das fronteiras, apenas para a guarda pretoriana e mais algumas unidades especiais.
As colónias como já disse eram as províncias ocidentais: Gália, Península Ibérica (muitos lusitanos, e alguns da Galécia), Germânia, Africa. Os recrutas tinham de ter a cidadania romana (nem escravos, nem libertos, nem estrangeiros), saberem latim (muitos sabiam escrever, e conheciam alguma coisa da literatura latina), ter uma altura superior a 1.65, não terem cometido crimes (adultério, roubo, etc). Embora fossem oriundos da plebe, os critérios de selecção eram rigorosos de modo a garantir que só os melhores fossem escolhidos (o que se poderia chamar o “estrato superior” do povo). Ora o recrutamento nas legiões do oriente é mais complicado, dado que se ignora como era efectuado. Se alguns defendem que os recrutas fossem filhos de veteranos que viviam no campo (o que era ilegal, mas dada a dificuldade de arranjar numa zona helénica recrutas latinos, levaria as autoridades a fechar os olhos), outros dizem que as tropas seriam orientais a quem era concedida imediatamente a cidadania antes de entrar na legião para cumprir o requisito legal. Isso justificaria o facto das legiões do oriente serem normalmente consideradas mais “moles” que as ocidentais (e não só por viverem num clima melhor com boas cidades).
Q.F.M.

quinta-feira, junho 08, 2006

A literatura Latina do Final da República/Princípio do Império-V
Plínio o antigo (23-79)- Exerceu diferentes funções quer militares, quer civis. Escreveu um livro sobre as tribos germânicas, diversas obras sobre retórica e história. O que nos sobreviveu foi uma “história natural”: basicamente incluía todo o tipo de conhecimento (geologia, geografia, astronomia, biologia animal e vegetal, farmacopeia, etc). Faleceu na erupção do Vesúvio.
Plínio o jovem (63-113)- Sobrinho do anterior. Teve uma carreira militar e administrativa também. Escreveu poemas, numerosas cartas sobre vários temas. Uma dessas cartas asseguraria a Trajano um lugar único na idade média: ao responder a Pliínio que os cristãos não deveriam ser perseguidos por tal, mas unicamente se violassem as leis romanas.
Suetónio- Escreveu provavelmente o livro de história mais conhecido (juntamente com a guerra das gálias) da antiguidade: os 12 Césares. Descreve as vidas dos imperadores de Júlio César a Dominiciano, tanto pelo lado positivo, como principalmente o lado negro (com muitos detalhes). A ideia dos imperadores romanos serem um bando de loucos depravados que passavam o tempo todo em orgias e a matar por prazer é-lhe muito devida. Tibério um velho debochado, Calígula um louco que tornou nomeou o seu cavalo consul, Cláudio a ser constantemente a ser enganado pelas suas mulheres, Nero o incendiário progressivamente mais desiquilibrado. Mesmo os melhores como Augusto não escapam à sua critica (os banquetes organizados em períodos de fome). Outras personagens: Lívia que eliminava quem quer que fosse para o seu filho Tibério ascender ao trono, manipulando um fraco Augusto, Agripina a moça fazendo o mesmo pelo seu filho, tendo-se sujeitado antes a todos os caprichos de Calígula. Suetónio era definitivamente um conservador que detestava a monarquia e desejava um retorno à república do senado. A sua parcialidade é mais que notória (se o compararmo com Tácito), mas a fácil leitura faz esquecer isso.



Q.F.M.