Roma Antiga

Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.

quarta-feira, maio 25, 2005

Os Persas
Dedico este post ao meu filho, a quem corre nas veias algum do sangue dos persas.
Povo de origem indo-europeia. Aproveitaram no séc. VII A.C. para se instalar no Elão que acabara de ser arrasado pelos assírios. Libertaram-se da tutela dos Medos, e com a dinastia aqueménida, conquistaram um império que ia das costas da Asia Menor até à India. Foram submetidos por Alexandre, governados pelos seleucidas (os meus diadoques favoritos que também terão o seu post), pelos Partos (já os apresentei), até que voltaram a levantar a cabeça…
Algures em princípios do séc. III, Ardashir o descendente de um sacerdote chamado Sassan que se tornara senhor local, com uma série de revoltas e batalhas bem sucedidas, conseguiu destronar o rei Parto. O que restava da nobreza Parta acabou por aceitar a sua suzerania. Estava criada a dinastia sassanida. Tentando restabelecer o poderio persa e para tal chocaram a leste contra o reino de Kushan no afeganistão (que derrubara os greco-bactrianos) e a oeste os romanos. Shapur conseguiu esmagar os romanos e capturar o imperador Valeriano. A imagem seguinte traz essa representação.
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Mas de forma geral, os dois impérios nunca conseguiram obter predomínio um sobre o outro: Juliano venceu uma série de batalhas antes de morrer e o seu sucessor entregou numeroso territórios. No séc. V os persas sofrerm uma série de invasões de um ramo do povo huno acrescido de revoltas de camponeses descontentes com os impostos e com a nobreza. No séc. VI Chosras I centralizou a administração, reformou os impostos e estabeleceu políticas de fomento de povoamento e construção de infra-estruturas; conseguiu ainda receber tributos de Justiniano que aflito com numerosos inimigos, pagou-lhe uma neutralidade. Um dos seus sucessores, Chosras II (591-628) levaria o império (sem o pretender) à ruína. É que depois de anos de paz, aproveitando a usurpação de Focas no império bizantino, invadiu o seu vizinho que estava em guerra civil e atacado por todos os lados, e conquistou em vários anos seguidos um território que ia de Alexandria até às portas de Constantinopla (que não caiu, só graças às suas muralhas); essa campanha durou de 603 a 626 com vitórias sucessivas. Mas a subida ao trono de Heráclio, mudou a situação: vendendo o ouro das Igrejas, recrutou um exército de mercenários, desembarcou longe das tropas persas e atacou o seu território directamente. Tudo se desmoronou em seguida para Chosras: com abastecimentos cortados, derrotado no campo de batalha, a sua capital saqueada, viu numerosas revoltas num país esgotado por numerosos anos de requisições de impostos e homens (o país estava em mobilização geral há quase 30 anos); ao recusar-se a assinar um tratado de capitulação foi assassinado pela sua nobreza. Nos anos seguintes o caos generalizou-se com soberanos e usurpadores a sucederem-se em catadupa. Finalmente, com Yezdigerd III (632-651), neto de Chosras e uma criança veio o fim. Os grandes senhores lutavam entre si, quando veio uma nova ameaça: os árabes. Depois de pequenas expedições, entre vitórias e derrotas, acabaram por esmagar o exército sassánida em Nihawand (642) e matar o comandante Rustam, conquistaram tudo o que havia de interesse, e só demoraram anos devido à extensão do país, até que o último soberano foi assassinado pelos seus em Cabul, o seu refúgio. Como nota curiosa, segundo conta uma história uma filha de Yezdigerd III casou com Ali, o genro de Maomé, o que permitiria os xiitas adquirirem uma maior implantação (as razões para isso são na realidade bem diferentes).
O estado persa abarcando territórios tão vastos era bastante heterogéneo. Os persas em sí, eram pequenos camponeses (ou servos) que cultivavam terras bem cuidadas, na maioria das vezes pertenças a senhores que à falta de outro termo poderiamos classificar de feudais. O comércio com o oriente (especialmente a seda) era outra riqueza do estado.
No topo da hierarquia estava o rei, supremos suserano, todo poderoso teoricamente, limitado pela nobreza e as suas próprias capacidades na práctica. Em seguida tinham uma grande aristocracia que controlava autenticos países. Esses senhores tinha uma educação muito refinada e dedicavam-se a imensos passatempos: xadrez, polo, caça, composição e audição de música e literatura, mulheres (possuíam extensos haréns), etiqueta. Claro que isso significava uma esmerada educação e rigidez social por oposição a Roma, onde filhos de camponeses podiam ascender na burocracia (desde que adquirissem um mínimo de educação) ou mesmo ao trono imperial pela via militar, assegurando uma fonte contínua de talentos (mas isso é preconceito meu).
A par, estavam os magos, os sacerdotes de Ahura-Mazda, o Deus supremo (religião criada por Zaratustra). Era uma religião altamente hierarquizada, com os seus rituais, e de tolerância minimal para qualquer desvio (Mani, criador de um sincretismo destinado a grande sucesso, foi esfolado).
Abaixo estava a imensa massa de camponeses e mercadores. Existiam também mais ou menos integrados, povos nómadas ou sedentários submetidos que forneciam contingentes de tropas conforme o necessário e sobretudo impostos.
A estrutura militar era herdada do império Parto: contingentes feudais (ou do próprio rei) fornecidos pelos grandes senhores quando eram requisitados, embora estes se revoltassem ou apoiassem usurpadores da família real (com o concubinato, herdeiros que se consideravam lesados era o que não faltava). A alta nobreza combatia couraçada (os chamados catafractes), utilizando cavalaria mais ligeira como auxiliar, e grandes massas de infantaria campesina sem treino conscrita (que desertava quando podia). As tentativas de criar um exército regular permanente a soldo do estado pouco resultaram deram devido aos custos.
Era uma civilização rica, requintada, amante de luxos refinados, e subtil. Grande parte da sua cultura foi absorvida pelos árabes (como sucedera com os romanos em relação aos gregos), de maneira muito do que consideramos a cultura árabe é na realidade persa (mesmo estes embora acabassem por se converter ao islamismo mantiveram as suas particularidades nomeadamente a língua e uma maior criatividade artistica).
Q.F.M.

terça-feira, maio 10, 2005

Os Trácios
Povo de origem indo-europeia que habitavam um vasto território (equivalente de forma geral à actual Bulgária, parte da Roménia, Grécia, Turquia e Sérvia). Falavam o trácio (pouco se sabe dado que não deixaram registos escritos da sua língua, o que ficou foi o que outros povos anotaram, o que não ajuda muito). Vivendo de forma tribal e considerados bárbaros pelos gregos, acabaram por criar pequenos reinos que normalmente provocavam dores de cabeça aos vizinhos devido às suas expedições de pilhagens e sempre se imiscuíram na política dos seus vizinhos (e o inverso também é verdadeiro). Submetidos temporariamente por estados mais poderosos (os Persas e as campanhas de Filipe e Alexandre colocaram-nos na ordem por algum tempo). Eram muito apreciados como mercenários, servindo os estados helenísticos (na batalha de Ráfia, os trácios ptolomaicos, derrotaram os trácios seleucidas). Um dos reinos que mais complicação deu aos romanos desde a república foi o dos Dácios: lançavam razias e fugiam rapidamente. Conseguiram mesmo derrotar exércitos romanos e as revoltas constantes impediam um estabelecimento definitivo e só se resolveu a situação quando o imperador Trajano assumiu o comando pessoalmente (105-106) e numa campanha épica destruiu esse reino que terminou com o suicídio do rei e da sua corte; como comemoração foi construída a magnifica coluna de Trajano que relata a guerra. Provavelmente o trácio mais famoso foi Spartaco.
Q.F.M.

terça-feira, maio 03, 2005

Mudanças
Li esta história há uns anos e estou a apresenta-la de cor, por isso não garanto os pormenores.
Gibbons na sua história da decadência do império romano relata o seguinte episódio: o imperador Teodósio estava a começar a ver com bons olhos os arianos e a pensar em dar-lhes apoio (isso significa o quê? Liberdade de culto?), quando foi visitado por um padre (bispo, eremita, monge?) de grande prestígio que lhe ia prestar homenagem. O sacerdote prostrou-se como era devido, mas junto aos príncipes imperiais limitou-se a dar uma palmadinha na cara como se fossem vulgares crianças. Teodósio furioso ordenou a sua imediata expulsão, e enquanto o sacerdote era arrastado gritava “se ficaste furioso por ter tratado assim os teus filhos, como ficará o Pai dos Céus por não darem as devidas honras ao seu filho?”. Teodósio caiu em si, e renunciou a quaisquer ideias arianas (creio que abraçou o sacerdote). Gostaria de imaginar alguém a tentar fazer uma brincadeira dessas com o Constâncio ou mesmo Constantino: se ficasse exilado na Bretanha teria muita sorte (o mais provável era ser executado ou pelo menos ter as pernas quebradas). O mundo estava a ficar muito diferente do que era poucas décadas antes
Q.F.M.