Roma Antiga

Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.

sexta-feira, novembro 20, 2009

The Fall of the West-I

Vou recomeçar com os posts no blog, depois de ter estado parado nos últimos meses,
Este é um livro de Adrian Goldsworthy que trata das razões que teriam levado à queda do império romano do ocidente.
Goldsworthy é um autor tradicional: ele considera que a queda do império foi uma coisa negativa, não aceita que a transição do império para os reinos bárbaros fosse uma coisa suave e indolor para as populações ou que o império por ser um império era uma entidade imperialista e opressora tendo sido excelente que tivesse sido derrubado (não que ele não considerasse que o império não oprimisse os seus cidadãos e fosse violento, apenas que as vantagens da sua existência eram claramente superiores às desvantagens, sobretudo quando comparado com o que lhe sucedeu).
O livro começa com uma revisão da literatura sobre a queda do império, as principais teorias (de que existem pelos vistos mais de 200) sobre esse fim, e porque ele não considera muitas delas correctas. Como é óbvio ele elogia sobretudo os autores com que ele mais se identifica. Ele segue depois o modelo da História de Gibson, começando com o reinado de Marco Aurélio. De uma forma agradável, os reinados vão-se sucedendo. Apesar de ser convencional (Goldsworthy não tenta defender imperadores tradicionalmente vistos como maus imperadores como começa a ser hábito actualmente), ele coloca questões interessantes. A primeira que me chamou à atenção, foi a dos senadores. Tradicionalmente, a substituição da classe senatorial pela equestre é vista como uma coisa positiva: os senadores sendo mais poderosos seriam mais propensos a revoltar-se e a representar um perigo; alem de que ao seguirem uma carreira inteiramente militar, seriam melhores profissionais do que os amadores senatoriais. Este argumento contém numerosas falhas: Constantino, Aureliano, Diocleciano, melhores comandantes do que os amadores aristocratas Scipião o Africano, Júlio César, Trajano? Dificilmente. O apogeu de guerras e conquistas (assim como todo os sistemas tácticos) foi criado pelos amadores. Outra desvantagem segundo Goldsworthy, é que uma vez que o imperador obtivera o poder, era relativamente fácil controlar a classe senatorial com uma mistura de acordos e como era fácil conhecerem-se a todos, pelo menos de nome (dado o seu reduzido número), era possível contentar todo o grupo. Com a classe equestre composta por dezenas de milhares de pessoas, era completamente impossível. Não existia qualquer grau de fidelidade ao imperador (dado que eles eram anónimos) e qualquer um podia achar que poderia tentar a sorte e ser imperador.
Quanto aos persas, Goldsworthy desvaloriza o seu papel. Estes são habitualmente apresentados como os grandes rivais dos romanos no poderio. Mas os sassânidas apenas conseguiram vencer batalhas sob os 2 primeiros soberanos (Ardashir e Sapur), sendo as suas expedições unicamente raids de pilhagem; os imperadores romanos que foram vencidos estavam em condições desvantajosas (enfrentavam revoltas de usurpadores ou eram eles próprios usurpadores, de modo que lançavam expedições à pressa e eram normalmente assassinados pelas suas tropas ou rivais, dificilmente as condições ideias para travar uma campanha) e eram normalmente medíocres comandantes Assim que um imperador conseguia efectivamente estabelecer o seu poderio, o padrão repetia-se: uma expedição romana que se enfrentada em batalha campal resultava na derrota persa, seguida do saque da capital e conquista de um par de províncias. Pessoalmente tenho uma visão um pouco mais mitigada: os persas tinham uma fronteira gigantesca que chegava às fronteiras da China e Índia passando por hordas de nómadas, portanto não deveriam querer estar a investir tanto numa fronteira ocidental. Se os romanos estavam enfraquecidos aproveitavam para atacar, se não, tinham mais com que se preocupar.
Quanto aos bárbaros Goldsworthy, acha que novamente eles só representavam um perigo devido às incessantes guerras civis romanas que enfraqueciam as fronteiras por serem desguarnecidas de tropas, e assim que a paz voltava, os bárbaros deixavam de ter qualquer possibilidade de atacar com sucesso Roma.
Outras ideias interessantes, foi a de que a fragmentação dos comandos, ao procurar impedir que um general comandasse meia dúzia de legiões mais auxiliares, deixasse de ter poder para se revoltar (na realidade nunca deixou de haver revoltas depois de Constantino, apenas menos bem sucedidas) fez com que os generais deixassem de ter tropas suficientes para enfrentar qualquer ameaça mais séria, obrigando o imperador a intervir constantemente e a levar à criação dos vários imperadores em simultâneo (e mais tarde à divisão do império).