Roma Antiga

Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.

segunda-feira, junho 21, 2010

Pompeia.
Li um livro que comprei sobre a cidade de Pompeia; está traduzido para português.
Quando comecei a lê-lo, fiquei com uma estranha sensação: dado o tema, esperava um livro de arqueologia (ou pelo menos de museologia). Ora os arqueólogos tem uma forma muito particular de escrever (como cada especialista numa ciência aliás), não revelando o domínio de vocabulário e precisão que eu esperava; fiz uma breve pesquisa e descobri que a autora era uma classicista de Cambridge, que escrevera livros sobre assuntos tão diferente como sobre o Parthenon, embora não fossem os seus objectos de investigação. A autora lera assim uma série de livros sobre o assunto e decidira escrever uma monografia sobre o estado de conhecimento actual da cidade de Pompeia. Ora rapidamente encontrei diversas coisas que me desagradaram no livro. Ela faz diversos comentários jocosos sobre os arqueólogos, o que acho de mau tom, dado que ela está completamente dependente deles para escrever o seu livro, tem um conhecimento essencialmente literário (embora ela tenha viajado, deve-se ter limitado a estar em frente aos monumentos sem ver nada mais, ou então nada percebeu do que viu). Ela compara sempre que pode, a sociedade romana à sociedade Vitoriana, o que para mim é um bocado forçado (mesmo que imagino que a ideia seja dar uma referência compreensível ao leitor britânico, a maior parte das comparações são muito delicadas). Ela não consegue compreender o fenómeno das procissões nem tem uma ideia de como decorriam (apenas que as pessoas saíam à rua): se ela tivesse alguma vez estado numa país católico (Itália, Portugal Espanha para referir só alguns) ou visto um programa da National Geographic (que mostram procissões budistas, hindus e xintoístas) poderia ter uma vaga ideia. Os ex-votos também lhe fazem confusão; tem no entanto um bom conhecimento dos autores clássicos (Plínio, Juvenal).
Ela começa a apresentar uma breve história da cidade, desde uma fundação incerta (provavelmente Etrusca, passando pelo domínio Osco, até se tornar lentamente romana, esta é uma das partes melhores conseguidas na minha opinião), até à sua destruição. E ela faz-nos uma ressalva importante: Pompeia quando foi destruída, não ficou como uma fotografia do que era uma cidade normal romana. Desde há uma década que os abalos sísmicos iam-se sucedendo, o que levara à destruição (e reconstrução não finalizada) de parte dos edifícios, e ao abandono da cidade por parte das famílias mais ricas; pouco tempo antes, um grande terramoto afectara a cidade, levando uma parte dos habitantes a fugir e a aguardar que as coisas estabilizassem (o que lhes permitiu provavelmente salvar a vida, e levando parte dos seus pertences). Finalmente, meses depois veio a famosa erupção do Vesúvio. Vieram saqueadores que tentaram abrir buracos na lava na rocha endurecida e roubar o que puderam (nem todos foram bem sucedidos, mas alguns conseguiram).
De seguida temos a componente urbanística e arquitectónica da cidade: as principais ruas, os palácios, as casas dos pobres (estas muitas vezes apenas um simples quarto sem iluminação), o seu mobiliário e objectos pessoais. As casas dos ricos tinham pinturas, algumas facilmente identificáveis (episódios da mitologia clássica ou da história), outros mais estranhos (pelo menos para nós), outros de cariz sexual acentuada (casais a praticar sexo em diversas posições). Mesmo assim, as casas dos ricos tinham relativamente pouco mobiliário.
Noutro capítulo, é-nos apresentada a alimentação, a sexualidade e divertimentos: os pobres comiam fora de casa em botequins, os ricos comiam em casa dado que tinham cozinheiros em casa. Uma dieta à base de queijo, pão, azeitonas, azeite, vinho para os pobres, pratos bastante sofisticados para os ricos (leia-se o satiricon para se ter uma ideia). Dos diversos lugares onde se comia, as empregadas podiam prestar serviços de cariz sexual, sem serem considerados bordeis. Pouco se consegue deduzir dos edifícios (quartos pequenos, mas arranjados de modo a que os clientes pudessem entrar sem se verem, e todos rabiscados com desenhos e comentários).
Para os espectáculos de circo, podemos ver que existiam frequentemente combates de gladiadores profissionais (o que significa que não eram combates até à morte, embora os acidentes por vezes sucedessem), menos frequentemente combates contra animais (importar animais exóticos como leões seria demasiado caro, portanto só restariam animais como lobos e javalis), tudo pago pelos benfeitores da cidade ou candidatos a cargos públicos. A cidade tinha diversos locais para representações teatrais (onde provavelmente seriam apresentados mimos e afins, e não propriamente peças do reportório grego). As termas eram outro local onde se passava o tempo: existiam banhos públicos (gratuitos) e privados. Todo o trabalho de limpeza e massagem não estava incluído nos serviços das termas, de modo que os pobres não lhe tinham acesso (os ricos levavam os seus próprios escravos para fazer esse trabalho). Dado que as águas não eram tratadas com cloro e nem podiam ser mudadas facilmente, ou as piscinas desinfectadas, o resultado é que seriam uma fonte de contágio de doenças.
Sobre os grafites na cidade: são uma mina de informação sobre a cidade. Insultos, elogios, declarações de amor, poemas, simples assinaturas, tudo lá está. Embora não se consiga ter uma ideia da percentagem da população alfabetizada, pelo menos percebe-se que desde os escravos até os aristocratas (passando por mulheres), um elevado número de pessoas sabia ler e escrever. Muitas frases são citações de poemas, mas como se repetem sempre as mesmas frases, isso não significa que as pessoas conhecessem o poema, mas apenas partes mais famosas. Além do latim, existem inscrições em osco (a língua original da cidade), grego, hebraico; isso dá um carácter de diversidade, que normalmente nos escapa (embora afinal isso seja normal numa cidade de um império com diversas populações).
Da composição social da população, na elite além de uma aristocracia tradicional de origem Osca (reconhecível pelos nomes, embora já latinizada), temos os descendentes de colonos italianos instalados por Sila, e escravos libertos que tinham enriquecido. A seguir temos uma população composta por pequenos logistas e proprietários de terras. Finalmente os pobres (simples trabalhadores) e escravos.

terça-feira, junho 01, 2010

Muenster
Fui a Muenster numa viagem. A cidade não tem passado romano propriamente dito, mas tem um museu arqueológico da Universidade que tem inúmeras peças gregas e romanas de expedições alemãs. Diversas estátuas, um vaso magnifico pintado, moedas, objectos do quotidiano. O espaço é pequeno tal como a colecção, mas é mesmo assim bastante boa. No entanto não existe um catálogo da colecção disponível, e os diversos livros à venda estão todos em alemão.