Roma Antiga

Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.

sexta-feira, novembro 26, 2004

A Literatura Romana do Baixo Império-III
O post de hoje vai ser unicamente sobre S. Agostinho; a vastidão do tema, leva-me apenas a lamentar não escrever mais. Pessoalmente, a única obra que li dele foi as “Confissões”, que é uma excelente fonte de informação não só auto-biográfica, mas também para compreender os problemas morais da época.
Nascido em 354 e morreu em 430. Era oriundo do que poderíamos chamar “classe média”: o pai era um pequeno burocrata local pagão, que se converteu na altura da morte (a mãe em compensação era uma cristã devota). Fez estudos de retórica, tendo um excelente domínio do latim, mas o grego escapava-lhe completamente (só o aprendeu tarde, sem dominar): o facto de conseguir ser nomeado professor de retórica em Milão (uma das capitais do ocidente) sem conhecer essa língua, mostra bem a decadência dos requisitos exigidos (S. Jerónimo que era mais velho e oriundo de uma família aristocrata, aprendera-o em casa como fora tradicional). Religiosamente, de neo-platónico (alguma vez deixou de o ser, como com toda a gente na época?) passou a maniqueísta. Mais tarde converteu-se ao cristianismo, sendo posteriormente baptizado (387). Regressou a Africa, onde seria mais tarde nomeado bispo de Hiponna, onde iria falecer, assistindo ao cerco da cidade pelos Vândalos (e aos últimos estertores do império do ocidente).
A sua obra mais importante do ponto de vista teológico (e consequências para a elaboração da doutrina católica) foi “De Trinitate”, onde tratou da S. Trindade (e estabelecendo uma obra em língua latina como pilar fundamental na teologia: até então, tudo o que interessava fora pensado e escrito em grego; o ocidente latino finalmente tomava um primeiro passo para se autonomizar). Ainda a destacar “A cidade de Deus”, no qual procura defender o cristianismo, dos que o consideravam responsável pela decadência do império, nomeadamente com o saque de Roma em 410, no qual ele separa a “cidade de Deus”, da “cidade dos homens”.
A sua obra mais conhecida foi claro as “confissões”: como já disse é uma obra auto-biográfica, em que são descritas as suas dúvidas, a sua crise espiritual, o percurso que seguiu (para um leitor moderno a obra é algo pessimista).
Escreveu imensas obras contra outras religiões da época (os maniqueísmo, donatistas, pelagismo, etc). Fez exegese da Bíblia. Escreveu sermões (escreveu também uma obra defendendo o casamento, contra autores que o consideravam uma mera cedência carnal). Escreveu mais obras que obviamente não podem ser aqui colocadas.
Q.F.M.

segunda-feira, novembro 22, 2004



NERO Antes de mais, devo pedir desculpa aos leitores e aos meus colaboradores do "Roma Antiga" pela minha ausência deste espaço. Estou no último ano da minha licenciatura, e os meus muitos afazeres não me permitem dar ao "Roma Antiga" a atenção que este merece. Dias melhores virão, com certeza.

A RTP anunciou a estreia, na próxima quinta feira, de uma minissérie de dois episódios sobre o polémico Lucius Domitius Ahenobarbus, que aquando da sua ascensão à púrpura imperial adoptou o nome Nero Claudius Caesar.

Costumo ser muito céptico a respeito deste tipo de produções cinematográficas ou televisivas. Geralmente, estas séries são pouco fiéis à História. Mas vamos ver...

Espero também que o "Nero" desta superprodução não se limite a corresponder à imagem estereotipada do tirano sanguinário matricida que nos é dada por Suetónio e outros cronistas hostis à sua memória.

C.J.P.

quarta-feira, novembro 10, 2004

Literatura Romana do Baixo-Império-2,5

Bem, pediram-me para falar sobre Eusébio de Cesareia, e portanto vou fazer uma curta referência.
Sabemos que nasceu na segunda metade do séc. III na parte oriental do império e morreu por volta de 340. Ou seja viu a resolução da crise do séc. III por Diocleciano, a grande perseguição que este moveu à Igreja, e a sua legalização e favoritismo por Constantino.
Supõem-se que viesse de uma boa família, mas não há certezas; em data indeterminada tornou-se bispo de Cesareia. Quando estalou a controvérsia com Ário, tendo subscrito o concílio de Niciea, acabou por alinhar com aquele.
A sua obra literária é vasta: comentários da Bíblia, uma defesa de Orígenes, tratados de defesa do cristianismo contra o paganismo, numerosa correspondência e mais importante que tudo, “A história da Igreja”. É certo que contém falhas (ignorava o latim, e portanto o ocidente para ele é quase desconhecido, foi acusado de falsificar passagens ou mesmo de ignorar o que não lhe interessava), mas tendo uma preocupação de recolha de detalhes e pormenores, torna-se praticamente uma fonte fundamental para compreender os primeiros séculos da Igreja. Descreve autores, teólogos, heresias, polémicas que teriam ficado de outro modo esquecidas. É autor também de uma biografia sobre Constantino (pessoalmente o estilo irritou-me, parecendo mais uma hagiografia, mas creio que os filhos de Constantino não o deixariam vivo perante uma obra do estilo “Os 12 Césares”, e afinal Constantino acabara de vez com as perseguições e foi o seu patrono). É descrita aí a famosa visão de Constantino antes da batalha contra Maxencio e o concílio de Niceia.
Q.F.M.

sexta-feira, novembro 05, 2004

A Literatura Romana do Baixo-Império-II

Com os autores cristãos, também temos imensa variedade. Temos autores de poemas (alguns dedicaram-se mesmo a reescrever a bíblia usando a Eneida ou a Odisseia como modelos); a maioria é considerada bastante medíocre. Petronia Proba, Ausónio, Porfírio. Ausónio.
Muito mais importantes são de facto os teólogos cristãos. Vou apresentar alguns dos mais importantes.
S. Ambrósio (339?-397)- Sendo governador de Milão e apenas catecúmeno, quando o bispo da cidade morreu, foi aclamado bispo pelos fieis (cristãos e arianos). Deu os seus bens aos pobres e começou a dedicar-se ao estudo da teologia. Seguidor do credo niceano, escreveu hinos litúrgicos e sermões (que são o principal da sua obra). Acabou por meter-se na política ao escrever ao imperador Valentiano para não recolocar o altar da vitória no senado e quando obrigou o imperador Teodósio a fazer penitência por um massacre. Ainda escreveu livros contra as diferentes heresias, exegeses e numerosas cartas pastorais; não foi propriamente um inovador (como seria S. Agostinho na teologia), mas um polemista.
S. Jerónimo - Defendeu a ideia de que estudar os clássicos não era um pecado, e sobretudo era extremamente culto para um latino: sabia, latim, grego e hebraico (no ocidente o estudo do grego estava a ser abandonado e apenas o latim clássico era estudado pelas pessoas cultas, e mesmo assim com dificuldade. Fez a tradução (ou revisão conforme os casos) da Bíblia a partir de outras línguas (grego, latim, hebraico e aramaico), que é considerada a versão canónica pela Igreja Católica desde esse período (a chamada Vulgata; curiosamente foi muito mal recebida no seu tempo sobretudo porque o antigo testamento se afastava da versão dos 70 em grego). Tentou difundir os ideias ascéticos dos monges (que levavam uma vida extremamente austera nesse período, vivendo em grupos no deserto ou lugares ermos). Fez numerosos comentários da bíblia.
S. Agostinho ficará para um próximo post, sobre os autores do séc. V.
Q.F.M.