O recrutamento-II
Lentamente observa-se outra transformação. Para os habitantes do império que quisessem obter a cidadania (não a tendo pelo nascimento), existia o recurso de se alistarem nas coortes auxiliares, marinha, ou outra unidade do género; cumpriam 25 anos e recebiam a cidadania; os seus filhos seriam automaticamente cidadãos romanos (podendo entrar nas legiões se quisessem). Ora os auxiliares tinham o hábito de incorporar no seu nome de família o nome do imperador de quem tinham recebido a cidadania, passando o nome para os descendentes. Assim sabemos que legionários do séc. II e III com nomes de família imperiais (como Claudius, Flavius, Ulpius), são descendentes de indígenas que foram auxiliares; se não tem nomes de imperadores, é porque descendem de colonos romanos (ou receberam a cidadania no período republicano, mas isso fora há muito tempo). O que vemos é que no séc. I a esmagadora maioria dos legionários tem nomes comuns, alguns poucos a partir do séc. II tem nomes imperiais e sobretudo no séc. III mais de metade tem nomes imperiais (o édito de Caracala ajudou), o que mostra que para além dos descendentes dos colonos, os indígenas mais ou menos romanizados vão entrando nas legiões (os velhos testes de conhecimento de latim continuavam a aplicar-se). Mas em compensação, a qualidade do seu latim vai-se degradando, tornando-se num verdadeiro latim de caserna, acusado de ser incompreensível para os restantes cidadãos (presume-se para os cidadãos cultos).
Outro ponto importante da onomástica, é que no ocidente, os legionários mesmo que de origem indígena, adoptavam nomes completamente latinos, abandonando os velhos nomes. No oriente, adoptavam uma mistura de nomes latinos com gregos e semitas.
Outro ponto importante: apesar de tudo o que disse, os romanos eram muito flexíveis de acordo com as necessidades. Quando Varro “perdeu” as suas legiões, Augusto comprou escravos, deu-lhes a cidadania e formou legiões com eles (Marco Aurélio fez o mesmo mais tarde). Podiam ser utilizados em caso de necessidade escravos, libertos e estrangeiros como legionários (embora respeitando as formas legais). Mas nunca egípcios. Augusto tinha um enorme preconceito contra eles (nem para auxiliares os aceitava), e o máximo que lhes concedia era que depois de servirem na marinha (a arma com menos prestigio), durante 25 anos de serviço (a remar) recebessem o direito latino (que lhes permitia ir para os auxiliares, embora fossem já velhos). Mais um par de gerações a servir em várias unidades e lá conseguiriam tornar-se cidadãos. Ora mesmo um reles liberto ex-escravo de qualquer outra etnia que tivesse servido na marinha recebia a cidadania no final do serviço. Esta situação demorou algum tempo a mudar.
Q.F.M.
Roma Antiga
Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.
4 Comments:
Cara, eu realmente gostei muito do seu blog... li praticamente todos os posts desde 06/2005... achei-os muito bons... sou fascinado por Roma... ( principlmente pelo grande Julius Caesar )
Um abraço, falow!
Obrigado pelo elogio, é sempre bom ver o nosso trabalho (na realidade somos 2 a manter o blog).
Obrigado pelo elogio, é sempre bom ver o nosso trabalho reconhecido(na realidade somos 2 a manter o blog).
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