Roma Antiga

Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.

quinta-feira, julho 29, 2004

Origens de Roma (III)

Qual a importância do monte Palatino?
Diz a narrativa que foram 12 aves a dar um bom presságio a Romulus na escolha deste local para edificar um burgo e aí ao irmão fratricida foi aclamado rei e fundou a cidade que levou, em sua memória, o nome de Roma.

O verdadeiro motivo para a primitiva ocupação humana local advém, tal como inúmeros outros assentamentos populacionais, do seu valor estratégico. O Palatino era uma verdadeira fortaleza natural, dominando a planície pantanosa do Tibre e o famoso vau da ilha Tiberina – o melhor ponto de travessia desta linha de água.
Este local situava-se na intersecção de duas importantes rotas: a via norte/sul que conectava as cidades gregas do sul da península itálica, com os povoados etruscos mais a norte; e um caminho de ligação entre o mar Tirreno e o mar Adriático, relacionado sobretudo com o comércio do sal e com as rotas de transumância para os pastos de Inverno na costa SO. As duas rotas entrecruzam-se exactamente nas proximidades da ilha tiberina, na passagem do rio Tibre.
Para além do Palatino, também a colina do Capitólio constituía uma fortificação natural de controlo desta encruzilhada estratégica de caminhos e gentes. As suas vertentes abruptas e arborizadas protegiam-na das cheias regulares do rio e das doenças que infestavam os pântanos. Não havia melhor sítio nas redondezas para fundar um povoado.
As escavações arqueológicas têm confirmado isto mesmo - o importante papel desempenhado pelo Palatino no nascimento de Roma, tendo-se descoberto aí inúmeros vestígios de cabanas e abrigos de pastores datáveis dos séculos VIII-VII a.C.

M.C.O.

segunda-feira, julho 12, 2004

Os mesmos ídolos de ontem e de hoje...

«Muito gostam os romanos dos jogos de gladiadores e dos seus heróis. Contemplam estes lutadores como uma espécie de deuses, um exemplo mortal de heróis imortais.
Por todo o recém ampliado Império abundam os gladiadores. Com efeito, qualquer província celebra, quase diariamente, competições em que as equipas destes gladiadores lutam pela fama, pela glória e, sobretudo, pelo dinheiro. Jovens de todas as condições esquecem rapidamente qualquer outra forma de promoção pessoal e fixam as suas esperanças de triunfo social em conseguir entrar em alguma das equipas que pagam aos seus gladiadores grandes quantidades de dinheiro.
Apoiados por uma sociedade que faz da posse de bens materiais o objectivo da sua existência, estes jovens abandonam as suas terras e a sua educação, para se lançarem com toda a energia no mundo das competições atléticas.
Os que conseguem algum triunfo convertem-se rapidamente em referências para gerações inteiras. As suas representações gráficas inundam as ruas e as casas. Os seus modos, poses, roupa e penteados convertem-se no modelo de todos os jovens, que vêm neles a encarnação de todas as suas esperanças, são os guias de um mundo dominado por imperadores incapazes ou despóticos e assolado por conflitos militares nas regiões periféricas do império.
Na realidade, o mundo do espectáculo já não é dominado pelos actores, pelos pintores, pelos escultores, pelos poetas, pelos músicos ou pelos artistas em geral, mas por uma nova onda de jovens gladiadores, cujos feitos passaram a ser os únicos cantados pelos nossos cronistas.
»

Marcvs Clavdivs Osorivs dixit

segunda-feira, julho 05, 2004



HISTÓRIAS (II) No seu magnífico "Decline and Fall of the Roman Empire", o historiador britânico Sir Edward Gibbon conta um episódio passado aquando da campanha que o imperador Septímio Severo, que reinou de 193 a 211 d.C., conduziu contra os povos celtas que habitavam o território da actual Escócia.

O imperador conduzia a marcha do exército, secundado pelo seu filho Caracala que, juntamente com o seu irmão Geta, fora designado co-imperador. Gibbon conta que, a determinada altura, Caracala bradiu o gládio na direcção do pai, que por estar de costas voltadas, não se apercebeu. No entanto, nesse preciso momento, Severo interrompeu a marcha e voltou-se para trás. Mas o filho, que estava prestes a desferir o golpe fatal, apressou-se a embaínhar novamente o gládio, sem que o imperador desse conta do sucedido.

Ao que parece - talvez por receio de Caracala, ou porque com ele estavam combinados - os oficiais da comitiva imperial não contaram este episódio a Severo. E quando o imperador faleceu, de morte natural, o governo do império foi dividido entre Geta e Caracala. A rivalidade entre os dois imperadores, já visível enquanto o pai fora vivo, chegou rapidamente a vias de facto. No culminar dessa luta, Geta e os seus colaboradores mais próximos foram assassinados por ordem de Caracala. Os seus partidários, quer em Roma quer nas províncias, foram igualmente perseguidos e dizimados.

O reinado de Caracala é considerado um dos últimos do chamado Alto Império, ou seja, da época dourada de Roma - ou o primeiro do Baixo Império, segundo outros autores. Entre outras inovações, Caracala criou uma nova moeda, o Antoninianus, e concedeu a cidadania romana a todos os homens livres do Império (uma medida que rompeu com as mais antigas tradições governativas). Reprimiu duramente um motim em Alexandria e, querendo imitar o grande Alexandre, declarou guerra aos Partos. De facto, Caracala via-se como um novo Alexandre Magno, chegando mesmo a criar uma falange macedónica, equipada conforme o uso da época do grande conquistador.

Segundo Gibbon, o seu assassínio, numa conjura urdida pelo Prefeito Macrino, deveu-se ao receio pela própria vida, por parte deste último. A corte estava então sediada no Oriente, onde Caracala preparava a sua expedição contra os partos. Na qualidade de Prefeito do Pretório, Macrino recebia o correspondência dirigida ao imperador, fazendo a triagem das missivas. Numa altura em que Caracala se exercitava na condução da sua quadriga, Macrino abriu uma carta enviada de Roma, que denunciava uma alegada conjura contra a vida do imperador. Como responsável pela dita conspiração, os denunciantes apontavam o próprio Macrino... alarmado com a denúncia - que se chegasse ao conhecimento do imperador, ditaria a sua perdição - o Prefeito do Pretório decidiu eliminar Caracala e usurpar o trono. Não sabemos se, de facto, Macrino estaria já envolvido em alguma conspiração. De qualquer modo, Caracala foi pouco tempo depois assassinado, aparentemente num atentado organizado por Macrino.

Quanto a este, tornou-se o primeiro imperador oriundo directamente da ordem equestre, uma vez que nunca fora senador. Contudo, seria assassinado pouco tempo depois, e substituído por um parente de Caracala.

C.J.P.