Erros
As situações que vou a seguir apresentar, referem-se a interpretações que se fazem da história baseado em pressupostos ideológicos e não em factos concretos.
Li/ouvi as situações que vou de seguida descrever há mais de um ano, por isso não me lembro bem dos pormenores.
1. Num programa de televisão (creio que foi do hora discovery) sobre Cleópatra, uma professora de uma universidade dos E.U.A. defendia que ela fora negra. Para tal, baseava-se no facto de se desconhecer a sua avó. De facto, toda a genealogia dos lágidas desde Ptolomeu I até Cleópatra VII é conhecida, com essa excepção. A professora defendia então, que era perfeitamente possível que Ptolomeu IX Soter II, tivesse escolhido uma mulher de origem negra (já que até então, todas as escolhidas para mães eram de sangue macedónio/grego ou quando muito um pouco de asiático, mas nunca negro ou mesmo egípcio), mas sem apontar qualquer prova, bastando para ela que o facto de a identidade ser desconhecida para representar uma prova. Se teoricamente isso era possível, acho pouco provável, até porque algum historiador da época teria referido isso.
2. Li num artigo, que um historiador americano defendeu que o imperador Septimo Severo (146-211) era negro. Apresentava como provas, o facto de este ser oriundo de Africa e ninguém ter referido explicitamente que ele era branco. O caso aqui é ainda mais caricato, pois inverte completamente a necessidade de apresentar provas. Septimo Severo era gozado por ter um forte sotaque púnico (as populações de origem fenícia que se tinham instalado no norte de Africa, criando Cartago), de ser duro e só se preocupar com o exército; creio que se ele fosse de cor negra, provavelmente também teria sido insultado por isso (apesar dos romanos não serem racistas no sentido que lhe damos agora). Os historiadores discutem normalmente se ele de facto era de origem púnica, ou de romanos que tinham emigrado aí, e acabado por se aculturar. E os retratos que dele ficaram, não mostram um indivíduo do tipo negróide (sendo o retrato romano da época ainda bastante realista).
3. O último caso refere-se a um achado arqueológico no reino unido. Um jornal referia que tinha sido encontrado uma sepultura do período romano com equipamento militar e que os arqueólogos pensavam que isso significava que os romanos teriam aceite nas suas tropas auxiliares mais bárbaras, mulheres, respeitando as tradições locais. Ora o que sucedera na realidade, fora que o curador de um museu local fora entrevistado, mostrara o tal esqueleto que fora escavado há mais de 20 anos, e que este tinha efectivamente restos de equipamento (não me lembro se tinha mesmo uma espada ou apenas a bainha), o que podia sugerir que a)fora uma viúva de um soldado que ficara com as coisas do marido (o que era ilegal), b)uma mulher em viagem (e levava essas coisas para se proteger) c)ou mesmo uma comerciante. Poderia ser outro caso qualquer, mas ninguém tinha apresentado melhor hipótese. Em ponto algum se dizia que fora uma mulher soldado. Pela nota positiva, o museu passou a ser muito mais visitado, o que deve ter alegrado apesar de tudo os funcionários do museu.
Q.F.M.
Roma Antiga
Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.
sexta-feira, novembro 25, 2005
segunda-feira, novembro 21, 2005
Os censores
Era um dos cargos mais prestigiados da república. Foi criado no séc. V AC, e era destinado unicamente a patrícios; com as lutas sociais, os plebeus acabaram por ter acesso a essa magistratura (devendo um dos magistrado ser plebeu e outro patrício). Abolida e reinstalada várias vezes, acabou por ser abolida definitivamente pelo imperador Dominiciano (finais do séc. I). Os censores eram dois e eleitos por um período de 18 meses. A sua função primitiva era a de contar os cidadãos (efectuar o censo). Estipulavam o rol dos cidadãos elegíveis para o senado, e eram responsáveis pela construção de edifícios públicos. Progressivamente, os seus poderes foram crescendo: tratar de parte das finanças de Roma, pesos e medidas, dar todas as informações estatísticas aos outros órgãos. Mas talvez a função porque ficaram conhecidos, foi a de controladores da moral pública. Catão por exemplo, ordenou a expulsão de um senador do senado, por ter sido visto a beijar a mulher em público. Qualquer pessoa que fosse acusada de ter um comportamento imoral (que tanto poderia ser um caso extremo como relato anteriormente, como o de suborno), cairia sob a sua alçada; para garantir a sua reputação, escolhia-se os censores de entre antigos cônsules. Ora, com o relaxamento dos costumes no final da república, as facções tratavam de comprar ou eleger membros para censores, para assim os outros membros que pudessem ser acusados de corrupção serem absolvidos sem problemas e pelo contrários, acusar os adversários; a instituição caiu em descrédito. Também o gigantismo do império, impedia que dois indivíduos conseguissem contar fosse o que fosse. Com o império, os imperadores guardavam para si um dos lugares, dando outro a um dos seus próximos.
Q.F.M.