Roman Sex
de John R. Clarke É um livro sobre sexo na Roma antiga, do final da República até ao fim do principado (séc. I AC – II DC). É um livro de arte, sobretudo com fotografias tiradas dos frescos de Pompeia e objetos do quotidiano (lamparinas, taças, etc.). O autor é um historiador de Arte numa Universidade Norte-Americana. Na introdução, ele começa por indicar que a sexualidade doa antigos romanos não é a dos nossos contemporâneos (fortemente influenciada pelo cristianismo, mesmo por parte de quem rejeita esta religião e o seu legado). Também explica que a esmagadora maioria das peças referentes a sexo, só muito recentemente foram disponibilizados ao público, estando anteriormente fechadas em caixas ou aparecendo em fotografias censuradas; com os anos 90 a situação inverteu-se. No capítulo seguinte, ele mostra vasos gregos clássicos: aí vê-se homens e mulheres que são penetrados analmente e oralmente por múltiplos parceiros revelando (segundo o autor) uma total submissão e rebaixamento dos “passivos” que são vistos como mero recetáculo de prazer enquanto os homens que estão a penetrá-los estão a usufruir de prazer (identificados com cidadãos). O sexo é assim uma relação de força entre desiguais. São depois mostradas imagens helenísticas em que existe uma total modificação: ambos os parceiros usufruem de prazer e estão em situação igual (independentemente do sexo). Dá-se de seguida um salto à Roma do final da república. Aqui podemos observar todo o tipo de relações possíveis e imaginárias. Desde masturbação solitária, casais homo e hétero, trios, grupos maiores, zoofilia, pedofilia. Mas segundo o autor, todos tem algo em comum: as pessoas estão a aproveitar o sexo, não são forçadas (mesmo que sejam escravos, tentam aproveitar o momento). Existe assim uma atitude mais positiva (mesmo que embelezando demasiado a realidade). As diversas imagens são contextualizadas em relação à atitude de Roma sobre o sexo. Teoricamente o sexo era para procriação: um cidadão devia ter o máximo de filhos possíveis com a sua esposa. Na realidade, as atitudes variavam de acordo com a classe social. Assim, nas classes superiores, os proprietários usavam os escravos e escravas para sua satisfação dado que lhes pertenciam; em compensação, pouco utilizariam prostituto(a)s. Mas com algumas limitações: se ninguém via problema em um nobre ter sexo com um homem, este tinha de ser de estatuto servil (escravo ou liberto) e nunca cidadão. Nem poderia (o proprietário) sofrer sexo anal e muito menos fazer sexo oral a outra pessoa (homem ou mulher não interessa). Uma sexualidade diferente da nossa sem dúvida, mas também com restrições (qualquer uma destas acusações era suficiente para levar à expulsão do senado de um dos seus membros em tempo normal). Para um plebeu cidadão, estes tabus também valiam, podendo levar à expulsão do exército ou de qualquer magistratura exercida. Só podia praticar estes atos livremente quem nada tivesse a perder, ou não tivesse ambições (isto não quer dizer que os cidadãos não o fizessem, apenas que tinham de ter muito cuidado em não ser apanhados). Quanto às obras em si. As pinturas que representam a quebra de tabus existem segundo diversos contextos, tendo diversas interpretações. Por exemplo, as imagens existentes nos banhos públicos, seriam imagens que pretendiam afastar o mau-olhado (provocavam o riso que quebra o mau olhado). As nas tavernas serviam para divertir os clientes. As dos bordeis, bem, que imagens mais apropriadas? É como se os romanos tivessem uma série de comportamentos proibidos que eram projetados na arte. Os objetos tinham também diferentes objetivos: alguns para dar sorte, virilidade, fertilidade. Ou simplesmente celebrar o sexo. Algumas das conclusões parece-me algo forçadas: a taça que mostra dois homens adultos a fazer sexo e que segundo o autor representa um quebrar dos tabus romanos. Ora a dita taça é segundo o próprio autor, oriental, com uma inscrição grega com uma dedicatória de um nome grego para outro grego, logo foi feita num contexto extraromano. A minha opinião sobre o livro? De forma geral gostei. Não é um livro que aprofunde muito a sexualidade dos romanos, aceita muitas vezes de forma literal aquilo que lhe é apresentado nas fontes (como na questão do preço das prostitutas, custarem no mínimo 2 asses- 1 copo de vinho). Mas tem um bom conhecimento dos povos mediterrânicos, viajou bastante para fazer comparações, percebe de arte e faz bons saltos dedutivos. Deste modo, termino o blog Roma Antiga: este será o último post. Com o pouco tempo que tenho disponível, só raramente escrevo artigos. Assim, decidi parar de escrever. Despeço-me e agradeço a amabilidade de todos os que acompanharam este blog. Até sempre! Fabiano