Roma Antiga

Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.

quinta-feira, setembro 30, 2004



A QUEDA DE ROMA Poucos acontecimentos provocaram tanto choque e estupefacção como o saque de Roma pelos Visigodos, no ano 410 da nossa Era.

Apesar de há muito não ser a residência principal dos imperadores do Ocidente – que preferiam estabelecer-se perto das fronteiras, em cidades fortificadas como Milão, Ravena, Sirmium ou Treveri -, Roma era ainda a capital espiritual, económica e política do mundo romano. Com cerca de um milhão de habitantes, Roma era ainda a maior cidade do Ocidente. Os imperadores continuavam a manter a populaça romana através dos abastecimentos da Anona, as famílias da aristocracia tradicional continuavam a fixar residência e a possuir luxuosos palácios na Urbs, enquanto o Senado existia ainda como reserva moral e política do Império.

Apesar das dificuldades dos anos anteriores – as derrotas na Mesopotâmia e Andrinopla, as guerras civis, etc -, era crença generalizada que o poder, a riqueza e a majestade de Roma subsistiriam ad aeternum. Ninguém esperava que a capital do mundo seria tão facilmente conquistada por um exército bárbaro. Desde a invasão gaulesa, no século IV a.C., que Roma não era pisada por exércitos estrangeiros. O próprio Aníbal, com todo o seu génio militar, não conseguira mais que cercar a cidade.

Como caiu então Roma em poder dos Visigodos? Ora antes de mais, vejamos o que conduziu a este trágico desfecho.

Desde os tempos de Teodósio, O Grande, que os Visigodos serviam no exército romano como “federados” (foederati). As duas grandes derrotas sofridas pelas legiões no espaço de vinte anos, na Mesopotâmia e nos Balcãs, privaram o Império das suas melhores forças. Teodósio viu-se forçado a arrolar soldados bárbaros, “barbarizando” desse modo o exército. Alguns historiadores consideram que foi esta a principal razão para a queda do Império: Roma abdicou da excelência militar que nos séculos anteriores lhe dera a supremacia sobre os povos estrangeiros. O exército romano “barbarizou-se”, afrouxando a disciplina e abandonando as tácticas ancestrais. O próprio equipamento militar perdeu qualidade, na medida em que as grandes oficinas imperiais tinham cada vez mais dificuldade em suprir as necessidades do exército. Além disso, os bárbaros que combatiam sob o estandarte imperial faziam-no à maneira dos seus antepassados, sendo liderados pelos seus próprios chefes e reis.

Quando o partido “nacionalista” se acercou do poder, após a morte de Teodósio e da queda em desgraça do seu lugar-tenente semi-bárbaro Estilicão – o último general que poderia ter salvo o Ocidente -, os bárbaros foram expulsos do exército romano (e, em alguns casos massacrados). Mas era tarde demais, para além de contraproducente; os soldados bárbaros eram os únicos que poderiam defender o Império dos seus inimigos ainda mais bárbaros. E na origem da guerra com os Visigodos – que já antes se tinham revoltado devido ao tratamento que lhes era dado pelos funcionários imperiais da distribuição de alimentos -, esteva a pretensão que Alarico, rei dos Visigodos, tinha de suceder a Estilicão como comandante supremo do exército do Ocidente. Como o governo de Honório recusou, estalou a guerra.

Alarico cercou Roma por três vezes. O primeiro cerco foi levantado através do cumprimento das suas exigências por parte do Senado romano: entrega de todo o ouro e prata da cidade, de todos os móveis ricos e preciosos, e de todos os escravos que pudessem provar o seu direito ao nome de “bárbaros”. Estupefactos, os enviados do Senado atreveram-se a perguntar ao rei dos Godos: “Se são essas as tuas vontades, ó rei, o que tencionas deixar-nos?” O conquistador respondeu secamente: “As vossas vidas”.

Durante este primeiro cerco, o pânico, a fome e o desespero na cidade foram tantos, que o próprio Papa Inocêncio concordou em que se realizassem sacrifícios pagãos pela salvação da Respublica.

C.J.P.

(Continua)

terça-feira, setembro 28, 2004

Pelagismo
Quando o “catolicismo” parecia vencer o donatismo em Africa, surgiu uma nova corrente que iria provocar imensa polémica. Pelágio, um monge oriundo da Bretanha (actual Inglaterra), elaborara uma nova doutrina. Tendo levado uma vida ascética e rigorosa, defendia que um indivíduo que levasse o seu esforço ao extremo, poderia atingir a salvação por si só; deste modo desvalorizava o papel da Graça (o delicado equilíbrio entre esta e a liberdade seria desenvolvido por S. Agostinho, o seu grande adversário nas primeiras décadas do séc. V), e reduziu a importância do pecado original; opunha-se também ao baptismo de crianças (dado que ainda não tinham compreensão do que lhes era pedido). Depois de alguns concílios, acabou por se retratar; mas vários discípulos seus mantiveram a controvérsia. Reduzidos à clandestinidade, iriam manter-se após a queda de Roma, durante os primeiros tempos dos reinos bárbaros.
Q.F.M.

terça-feira, setembro 14, 2004

O Cicerone.



Marcus Tulius Cícero (100-43 a.C.) foi um eloquente orador romano que gostava de mostrar a grande cidade de Roma aos visitantes e contar-lhes, com detalhes e entusiasmo, os episódios ocorridos em cada local particular visitado pelos estrangeiros.
Em sua homenagem, com o tempo, passou-se a denominar qualquer guia turístico como cicerone.

M.C.O.

terça-feira, setembro 07, 2004

Regresso às aulas
(Alguns factos curiosos sobre o ensino em Roma) .

O ano escolar não começava em Setembro, como agora, mas por volta do nosso mês de Março, logo após o feriado da deusa Minerva – patrona dos estudos.
O ensino, já naquele tempo, custava bastante dinheiro, por isso só os pais com algumas posses poderiam enviar os filhos a estudar. Cada criança tinha que providenciar o seu próprio material escolar, constituído basicamente pelas tabuinhas de cera e pelo respectivo estilete (para escrever e apagar), pelas penas e tinta, pelos rolos de pergaminho e, por fim, pelo ábaco para as matemáticas. Os filhos dos pobres não iam à escola, e os dos escravos pertenciam ao devido amo, sendo também escravos.
O dia de aulas começava bem cedo para uma criança romana, mesmo antes de amanhecer, terminando pelo início da tarde, sobrando tempo para as brincadeiras. As salas de aula tinham normalmente 10 a 12 crianças. Estas começavam a estudar a partir dos cinco anos. O ensino dividia-se, tal como hoje, na escola primária e secundária, mas a maior parte dos alunos não ia além do primeiro nível. Na primária ensinava-se maioritariamente o trivial: ler, escrever e contar. Na segunda etapa, estudava-se gramática latina e grega, aritmética e literatura, com alguma geografia, astronomia e história. Também era ensinado aos rapazes a arte da oratória (os romanos acreditavam que só bons oradores davam bons líderes!).
Os pais é que pagavam aos professores, mas não eram bem pagos, por isso arranjavam outros empregos complementares. Os meninos ricos estudavam em casa com tutores privados, tratando-se muitas vezes de escravos de origem grega. Talvez por serem mal pagos, os professores eram muito rígidos - a preguiça ou a falta de pontualidade, no ciclo primário, era tratada com tareia ou com uma vergastada. No ciclo secundário, um delito grave podia até ser pago com chicotadas.

AMERY, Heather; VANAGS, Patricia (1977), Roma y los romanos, Madrid: Ediciones Plesa.
DEARY, Terry (2000), Os miseráveis romanos, Europa-América.

M.C.O.

Adenda ao Donatismo:
Uma nota sobre o post do Donatismo: os que preferem a Idade Média, devem saber que uma das reivindicações iniciais de grupos heréticos como os cátaros e albigenses foi o recusarem os sacramentos de padres considerados indignos (praticando concubinato, simonia, etc), considerando-os nulos (quando ainda estavam dentro da Igreja). Ora a doutrina da igreja já fora estabelecida com o problema do Donatismo: seja qual for o comportamento moral de um sacerdote, os sacramentos que ele ministra são considerados válidos, uma vez que eles são independentes da pessoa (para evitar a anulação constante de sacramentos no caso de descobrir-se qualquer escândalo relacionado com um padre).
Q.F.M.