Roma Antiga

Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.

sábado, agosto 28, 2004



"REI ARTUR" Há dias assisti ao filme “Rei Artur”, do realizador Antoine Fuqua. Pouco há a dizer sobre o filme propriamente dito; é apenas mais uma película de aventuras, do género a que Hollywood nos habituou. Mas não é sobre aspectos técnicos ou artísticos que pretendo escrever.

O que me chamou a atenção em “Rei Artur” foi o facto de a produção do filme o anunciar como a versão “histórica” da velha lenda arturiana. Ler o que os críticos do “Público” e do “Diário de Notícias” escreveram sobre o filme deu-me ainda mais curiosidade; segundo esses críticos, o filme era apenas “pseudo-histórico”, por situar a origem da lenda na altura da retirada romana da Bretanha e por fazer de Artur e dos seus cavaleiros uma unidade de élite do exército romano, composta por bárbaros. Para os ditos críticos, tudo isto é “pseudo-história”. Em minha opinião, estes senhores estão enganados, pelo menos nas questões que referem. E passo a explicar porquê:

1.De facto, tem sido sustentado por alguns historiadores que a origem do mito arturiano tem origem nas lutas entre os romano-bretões e os anglo-saxões que invadiram a actual Grã-Bretanha, nos séculos V e VI. Dizem mesmo que a personagem de Artur teria origem num líder romano-bretão chamado Artorius, que em meados do século V saiu vencedor de uma grande batalha contra os Bárbaros. Tal como o misterioso galo-romano Siagrius, Artorius seria então mais um líder local que, no século do colapso do Império, tentava salvar o seu país e o que restava da civilização.

2.Neste aspecto, o único erro do argumento do filme é situar a ascensão de Artur no início do século V, por volta do ano 410 (altura em que os Romanos abandonaram a actual Grã-Bretanha), quando a personagem real terá liderado os romano-bretões apenas uns vinte ou trinta anos mais tarde. No entanto, há que ter em conta que o Artur do filme era ainda relativamente jovem, pelo que poderia viver ainda algumas décadas.

3.Por volta do ano 440, o Generalíssimo Aécio - que liderou as tropas do Império do Ocidente durante grande parte do reinado do débil Valentiano III -, recebeu desesperados pedidos de ajuda dos romano-bretões, cujo país fora invadido por uma grande horda de anglo-saxões. Aécio não pôde ajudar a antiga província romana mas, ao que parece, ainda assim os romano-bretões conseguiram uma grande vitória sobre os Bárbaros. Muito provavelmente, foi nesta altura que surgiu o mítico Artur.

4.O exército romano tinha unidades de élite especializadas, incluindo cavaleiros bárbaros auxiliares. Reparei que, a certa altura, uma personagem do filme refere-se a Artur e aos seus cavaleiros sármatas como “cavalaria auxiliar”, o que é correcto do ponto de vista histórico. Os Romanos sempre usaram tropas “auxiliares”, assim chamadas porque eram compostas por não-cidadãos. Júlio César, por exemplo, usou cavaleiros germânicos na conquista da Gália e na Guerra Civil. E à medida que o Império se aproximava do fim, as legiões auxiliares tornaram-se cada vez mais importantes. Por exemplo, quando Aécio derrotou Átila, na célebre batalha dos Campos Cataláunicos (451), a vitória deveu-se muito mais aos federados visigodos que às legiões romanas, de quem o rei huno escarnecia por “se cobrirem de escudos” (1).

5.Existe um documento datado do final do reinado de Teodósio, o Grande (395), que enumera todas as unidades do exército romano. Nessa lista, constam destacamentos especiais de cavalaria, artilharia, etc(2), muitas delas deslocadas dos seus locais de origem. Existiam soldados hispânicos na Síria e sírios na Hispânia, por exemplo.

O que é curioso neste filme é que, por um lado, existe uma intenção declarada de ser fiel à História, mas, por outro, cometem-se erros escandalosos. Vejamos:

1.Ao contrário do que o filme dá a entender, não era o Papa quem concedia postos militares ou cargos políticos. O Papa era uma personagem importante, enquanto bispo de Roma, e desfrutava de um enorme ascendente moral sobre a Casa de Teodósio, mas era ao imperador que cabia a administração do Império e a chefia dos exércitos. Honório era um soberano acossado pelos Bárbaros e pelos múltiplos usurpadores que surgiam um pouco por todo o lado, mas foi dele a decisão de abandonar a Bretanha. O facto de o filme atribuir ao Papa o governo do Império faz lembrar a mítica “Doação de Constantino”, um documento forjado na Idade Média com o intuito de justificar o poder temporal do Papado. Interrogo-me se o argumentista do filme se terá baseado nessa lenda sem fundamento... Do mesmo modo, não existia ainda uma “Guarda Pontifícia”, como é referido no filme. Deve ser este o seu momento mais ridículo!

2.Se o que se pretendia era uma versão “histórica” da lenda, porquê manter nomes como Lancelot, Guinevere, Galahad e Gawain?

3.Naquela altura, ainda não se condenavam à morte os pagãos, como o filme quer fazer querer. O culto pagão oficial era já proibido mas, à excepção de alguns motins populares contra os pagãos, ninguém era perseguido por não ser cristão. Por exemplo, grande parte da élite senatorial do século V era ainda assumidamente pagã.
4.No final do filme, quem casa Artur e Guinevere é Merlin, um mago pagão. O que não deixa de ser estranho, quando Artur é apresentado como cristão devoto, e quando a própria Guinevere ostenta um crucifixo no peito. Além disso, a “salva” final de setas a arder é, no mínimo, ridícula.


Quem assistir a este filme dá-se conta de uma evidente tentativa de associar ao protagonista ideais bem ao gosto do público moderno. Este Artur apresenta-se como um quase democrata, um idealista que acredita que “todos os homens nascem livres”... Talvez, em determinados círculos(3), existissem ainda esse tipo de concepções e ideais, mas parece-me improvável que um militar estacionado nos confins do Império, naquela época tão conturbada, se pudesse dar ao luxo de pensar nessas coisas.

Além disso, o Baixo Império era um estado totalitário em que noções como a “liberdade” não eram muito apregoadas. Por exemplo, ao passo que no chamado Alto Império foram vários os imperadores que cunharam moedas com alusões à “liberdade” que trouxeram para o Estado (“Libertas Restituta”, por ex.), os sucessores de Diocleciano abandonaram esse tipo de alusões, preferindo referir a segurança instaurada pelo seu governo e a manutenção da unidade do mundo romano. Eram tempos duros, em que a liberdade e os direitos dos cidadãos eram preteridos em função da sobrevivência do Império. Este apenas sobreviveu à longa crise do século III graças à instituição desse governo totalitário. Todavia, querendo salvar Roma com a instituição da tirania, os imperadores do “Dominado” acabaram por ditar a sua queda. Os cronistas coevos atribuíam a queda do Império ao despotismo destes imperadores, que oprimiam o povo com impostos pesadíssimos, de modo a que as pessoas começaram a pensar que viveriam melhor sem Roma. Segundo os mesmos cronistas, não eram poucos os que preferiam “viver livres, sendo escravos dos bárbaros, que viver como escravos, sendo cidadãos romanos”.

Penso que os produtores deste tipo de filmes deviam ter em conta que um filme ou é “histórico” ou não é. Fazer um filme que se diz “histórico”, mas ao mesmo tempo sacrificar aspectos importantes em prol de uma maior “espectacularidade”, costuma dar mau resultado.

C.J.P.

______________________________

(1)– FERRIL A., “A Queda do Império Romano - a explicação militar”.
(2)– Idem, ibidem.
(3)- Vários juristas romanos dos séculos II e III consideravam que não existia uma “natureza servil” - como se acreditava desde os tempos da República - e que a escravatura era apenas uma instituição jurídica. Os juristas Florentinus, Trifoninus e o célebre Ulpianus consideravam que, em termos de direito natural, todos os homens nasciam livres, incluindo os escravos. A esse propósito, ver THÉBERT, Yvon,“O Escravo”, in “O Homem Romano” (Editorial Presença, 1991, pág. 142). Quanto à Igreja Cristã, pregava a igualdade de todos os homens diante de Deus, mas aceitava a escravatura e a ordem social imposta.

11 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Também vi o filme e confesso que me irrita o modo holliwoodesco de recontar a lenda e a história. O que me leva a escrever foi a inclusão dos sármatas como sendo os cavaleiros que, supostamente, darão origem aos Cavaleiros da Tavola Redonda. Haverá alguma razão histórica para destacar os sármatas nesse contexto e misturado com o tributo de terem de lutar não sei quanto tempo para poderem regressar, décadas depois, ao seu território de origem?

5:44 da tarde  
Blogger Terra dos Pinheirais Aventura said...

Bem,achei ótimo o post sobre o filme.
Acho que todos os pontos críticos feitos acima estão certos.
Esse filme,na minha opinião,como historiador,é o que mais se aproxima da "real"história do Rei Arthur.
Acho que o autor usou uma boa dose de romance no filme,para ganhar credibilidade,como manter os nomes dos cavaleiros.Ou os detalhes falhos que foram citados acima.Mas como eu disse,o principal do filme,que é mostrar a real história Arthuriana,foi bem contado,mesmo com os detalhes lendários que ficaram no filme.

8:56 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

o filme foi aprovado pelos historiadores e pelos cientistas.
se os profissionais aprovaram.....

5:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sou cinéfila e estudo muito as coisas, foi o filme mais detestavél e francamente nem assisti ao filme até o final. Ser sincera eu sei tem seus percalços, entretanto, vamos falar a verdade, Roma fez desgraças demais neste planeta e continua a fazer,e a questyão pagã e a conversão de Arthur ao cristianismo etc...para mim, temos de basearnos lá nas escavações e quem sabe um novo arqueologo consiga um dia juntar a verdade sobre tudo isso, até lá, vamos continuar a assistir filmes..e imaginar..

9:09 da tarde  
Blogger Moda said...

eu assisti o filme masi eu num tenho muita paciencia para assisstir filme desse tipo nãoo mas axei um aspecto bem interessante na parte do filme ana hora q uma criança é raptada
um aspecto bem interessante q eu axxei foi isso aí
mais é bem legal é serve para muitos estudantes q estão na sexta série esse filme mais eu adoooooooooooorei
é bem legall

5:51 da tarde  
Blogger Moda said...

Este comentário foi removido pelo autor.

6:03 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

muit gente diz q esses filmes num tem sentido nenhum mais eles fazem muita diferença pq ele retrata sobre a história de um menino q foi coroado aos 15 anos...

6:03 da tarde  
Blogger Unknown said...

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