Roma Antiga

Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

A queda de Roma e o fim da civilização por Bryan Ward-Perkins
Acabei de ler o livro. Bem, o livro é como o próprio autor admite, uma reacção contra uma série de autores que defendem que a queda do império romano não teve qualquer consequência (eu tive de ler um na faculdade de Henri Pirene que defendia essa tese). Explicando o contexto, se até à segunda guerra mundial, ninguém punha em causa que o império fora destruído centrando-se a discussão se isso fora porque os romanos eram decadentes/civilizados e os germanos selvagens/robustos (conforme se era pró-latino ou pró-germano), com a união europeia começou-se a colocar de parte essas questões para não ofender os nórdicos. O livro de Peter Brown tinha uma abordagem diferente (que é genial segundo as próprias palavras de Bryan Perkins), procurava observar o lento transformar da sociedade romanas. Começávamos com o ainda principado de Marco Aurélio, seguíamos pela crise do séc. III, a ascensão dos cristãos, a conquista do império pelos bárbaros e a convivência forçada, levando a uma lenta transformação/absorção da aristocracia romana e da sua cultura pelos germanos. Vemos assim o desfilar e de um mundo e de mentalidades, com a aristocracia romana a transmitir a velha cultura, impermeável às mudanças à sua volta.
Este ponto de vista foi imediatamente usado e levado às ultimas consequências, por outros autores que chegavam a propor que ninguém notara a queda do império (ou que até fora benéfico), que os bárbaros se limitaram a instalar-se pois pretendiam melhorar as suas condições de vida sendo rapidamente tolerados pela população local miscigenando-se formando as bases da população da Europa ocidental). A política contemporânea e o reabilitar do multiculturalismo, levou a que muitos considerassem Roma como uma opressora material, social e cultural, impedindo os povos autóctones de se desenvolverem (como os celtas), ao mesmo tempo que o estudo dos clássicos entrou em declínio.
Ora Bryan tem uma opinião radicalmente diferente. Com as diferentes crónicas da época (a começar pelo nosso Idácio), não custa ver que as invasões se fizeram com o habitual cortejo de destruição, roubo e mortes. Os confiscos de terras em proveitos dos vencedores, e na maioria dos casos a religião diferente professada pelos bárbaros eram outros factores contra as potenciais boas relações (além de que ninguém gosta de ver um bando de estrangeiros a entrar pelo seu território dentro).
Bryan sendo um arqueólogo, procurou através dos vestígios materiais, ver se existe alguma modificação no padrão de vida. E a conclusão é que sim. Estudando unicamente a população humilde (e não a aristocracia), pôde observar que o cidadão comum romano quer habitasse na Bretanha (o fim do mundo), quer no norte de africa, tinha acesso a uma série de bens de consumo (sobretudo através dos restos das ânforas que eram utilizadas para armazenar vinho e azeite, pode-se observar que as populações consumiam produtos externos à sua própria terra, não se limitando assim a uma economia de subsistência, embora outras provas sejam dadas), terminando esse consumo no período pós-romano, em que a população se limita a uma economia de subsistência (segunda metade do séc. V). Também o tamanho das cidades diminui muito (ao mesmo tempo que desaparecem aldeias), implicando uma contracção demográfica, que dificilmente se coaduna com uma economia próspera. Isto obviamente no ocidente, pois no oriente, a ausência de invasões não afectou a economia, até que as guerras sucessivas contra árabes, avaros e eslavos arruinou os bizantinos por seu turno (isto no séc. VII).
Também apresentou diversos argumentos para a queda do império do ocidente. Um deles chamou-me a atenção. Quando os bárbaros entraram pelos dois impérios (passando o Reno e Danúbio) no ocidente pararam na península ibérica (logo tinham acesso às 3 ricas províncias de Itália, Gália e Hispânia), tendo de parar aí devido ao mediterrâneo, permitindo que o ocidente tivesse como províncias de reserva a Africa e as ilhas que lhes davam ainda recursos financeiros e humanos para aguentar. Ora, estando a frota romana a proteger os carregamentos de trigo de africa para Roma, não podia estar na península ibérica, e assim que os vândalos conseguiram construir barcos (que não tinham de ser muito ser muito sofisticados) a reserva perdeu-se (o convite do conde Bonifácio não ajudou à situação). No oriente os diferentes povos podiam arrasar tudo nos Balcãs, mas chegando ao mar negro não podiam avançar, e sendo uma zona fundamental, a frota romana oriental estava aí concentrada não os deixando passar; logo as ricas províncias da Anatólia, Síria e Egipto estavam fora do alcance bárbaro, mantendo os cofres cheiros (além de serem zonas muito mais vastas que a africa e as ilhas), que podia continuar a suportar um exército grande (coisa que não sucedeu no ocidente). Isto somado a muita incompetência e azar liquidou o império do ocidente. Um bom argumento
A minha opinião sobre o livro: é um livro cheio de argumentos muito fortes e lúcido (ele aponta possíveis fraquezas dos seus pontos de vista, mas de facto eles são bastante convincentes, mas eu já estava convencido à partida).
A maior falha deste livro, é uma questão de estilo: o livro é de um arqueólogo realista que examina provas e as desmonta, contrapondo (com provas) o que considera correcto. Ora Peter Brown é um erudito, que estuda sobretudo as mentalidades e consegue recriar o mundo romano, levando-nos a empatizar com os pagãos que assistiam à remoção do altar da Vitória em Roma, ou dos aristocratas que na Gália do séc. V ainda se reuniam para fazer jogos literários, enquanto que as cidades eram cercadas pelos bárbaros. Bryan vai ao cérebro, mas Peter Brown ao coração.
Q.F.M.

12 Comments:

Anonymous Anónimo said...

PAX VOBISCUM.
Gostei de descobrir este blog, e mais , gostaria de “linkar” ao meu, se não se importam.
Não posso deixar de pensar que os Ingleses realizam documentários e estudos magníficos sobre tudo o que é romano, desde o armamento, à gastronomia, tendo metade da herança romana que nós, supostamente, temos… Cumprimentos!

11:06 da tarde  
Blogger Old Custom Brasil said...

Gostaria de dar o parabens pelo blog, eu como estudante/professor de história gostei muito do blog e vou recomendar para alguns amigos.

Abraços.

3:40 da manhã  
Blogger Fabiano said...

Blogivium: Claro que pode linkar à "vontade".
AO Cuca: obrigado!

9:39 da manhã  
Blogger Catellius said...

Grande Q.F.M.,
Estou com um novo post, intitulado

GALVÃO E A TRANSUBSTANCIAÇÃO

Começa assim:

"Bento XVI virá ao Brasil em maio deste ano. Não será o primeiro "nacional socialista" a ser bem acolhido no Brasil; Josef Mengele, Franz Stangl, Gustav Wagner e Herbert Cukurs são algumas das celebridades arianas cristãs que refizeram tranqüilamente suas vidas em São Paulo. Sua Santidade deverá aproveitar a missa, planejada para um milhão de pessoas, para anunciar a canonização do primeiro santo 100% brasileiro - o que é de pasmar, já que milagreiros costumam brotar mais facilmente em áreas de esgoto a céu aberto, insalubres, desassistidas por..."

Gostaria que você comentasse!

Um grande abraço!
Catellius

2:18 da manhã  
Blogger Fabiano said...

Não acho muito boa ideia, dado que desconheço grande parte do que é a realidade brasileira. O que chega a Portugal, são as telenovelas da Globo, e ocasionais reportagens sobre violência nas ruas, o que é muito pouco. Quanto à igreja católica, esta é tão contraditória que teria de fazer um post a insultá-la e outro a elogia-la podendo escrever uma coisa e o seu contrário, que eram ambos aceitáveis.
Q.F.M.

12:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Vou a meio, mas também já tirei algumas conclusões idênticas às tuas, boa semana.

2:43 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro Cattelius...

Vamos por partes. O Brasil foi colonizado por Portugal, e recebeu uma herança católica apostólica romana que ainda hoje está presente na sua cultura. O fato do papa Bento XVI por aqui chegar não indica nenhuma preferencia por nazistas. Afinal até lutamos contra eles nos campos da Itália, coisa que o Glorioso Portugal não teve a decência (ou a coragem) de fazer. O fato (lamentável) do Brasil ter abrigado alguns criminosos nazistas não tem nada haver com alguma forma de proteção do governo brasiliero. Alguns desses criminosos foram localizados e prontamente presos pelas autoridades brasileiras.
Lamentavelmente caro Cattelius o Brasil não faz parte da Comunidade Européia nem teve em nenhum momento um império ultramarino para espoliar. Então faço questão que o caro tribuno conheça algumas de nossas empresas tais como a Embraer, a Petrobras, a Cia Vale do Rio Doce, a Embrapa o Bradesco e o Itau e algumas outras (inclusive a própria rede Globo) que fazem questão de desenvolver o país e o continente sul americano de modo social e ambientalmente responsável. Se isso não for suficiente o caro poderia dar uma pesquisada na produção acadêmica e científica das Universidades Paulistas (ou seja de São Paulo) a USP e a Unicamp para verificar que aqui se faz ciência e tecnologia, em língua portuguesa, no mais alto nível. Eu conheço e admiro Portugal, mas talvez o senhor não conheça o suficiente do Brasil.

Sds

11:47 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro Cattelius...

Vamos por partes. O Brasil foi colonizado por Portugal, e recebeu uma herança católica apostólica romana que ainda hoje está presente na sua cultura. O fato do papa Bento XVI por aqui chegar não indica nenhuma preferencia por nazistas. Afinal até lutamos contra eles nos campos da Itália, coisa que o Glorioso Portugal não teve a decência (ou a coragem) de fazer. O fato (lamentável) do Brasil ter abrigado alguns criminosos nazistas não tem nada haver com alguma forma de proteção do governo brasiliero. Alguns desses criminosos foram localizados e prontamente presos pelas autoridades brasileiras.
Lamentavelmente caro Cattelius o Brasil não faz parte da Comunidade Européia nem teve em nenhum momento um império ultramarino para espoliar. Então faço questão que o caro tribuno conheça algumas de nossas empresas tais como a Embraer, a Petrobras, a Cia Vale do Rio Doce, a Embrapa o Bradesco e o Itau e algumas outras (inclusive a própria rede Globo) que fazem questão de desenvolver o país e o continente sul americano de modo social e ambientalmente responsável. Se isso não for suficiente o caro poderia dar uma pesquisada na produção acadêmica e científica das Universidades Paulistas (ou seja de São Paulo) a USP e a Unicamp para verificar que aqui se faz ciência e tecnologia, em língua portuguesa, no mais alto nível. Eu conheço e admiro Portugal, mas talvez o senhor não conheça o suficiente do Brasil.

Sds

11:47 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro Catellius

Um último comentário. Nosso Glorioso Felipão foi um excelente técnico para a Seleção Portuguesa, não?

Sds

11:55 da tarde  
Blogger Fabiano said...

Sim, Portugal tem conseguido os melhores resultados das últimas 3 décadas.

9:23 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

É certo que com a colonização deixamos uma pesada herança ao Brasiu, que foi evoluindo negativamente, com a criação das Iurdes e otras seitas, que só servem para explorar os analfabetos a troco de um distante ,lugar no ceu!

Em contrapartida recbemos do Brasiu,frutas tgropicais, picanhas, jogadores de futebol, e muitas putas!

Parece-me que a troca não foi má. Antes me quero ver rodeado de mangas , de papaias e de de pererecas, de que com os padres!

Mandem mais que a gente gosta, e quando forem sobrarem reexportamos para o resto da Europa, como fzemos com o Filipão!

cara zangado

5:29 da tarde  
Blogger xjd7410@gmail.com said...

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12:02 da tarde  

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