Recrutamento
Um artigo que li sobre as uniões dos soldados romanos do princípio do império levanta questões interessantes.
Os legionários estavam proibidos durante o período do serviço (+ ou- 25 anos) de casar. Mas por numerosas inscrições, testamentos e outros registos, sabe-se que eles mantinham ligações estáveis com mulheres (que viviam fora do acampamento), só podendo casar com elas depois de ter terminado o serviço (e quaisquer filhos nascidos durante o período de serviço seria considerado ilegítimo, tendo de ser “adoptado” e ter de ser referido expressamente no testamento para herdar o que quer que fosse). Só com Septimo Severo se alterou a situação que legalizou e acabou com a burocracia que permitia os soldados tomarem conta das suas famílias e situações de dificuldade (um jovem que tivesse começado uma ligação e engravidasse a sua companheira, se não fizesse um testamento rapidamente e morresse em combate, deixava a sua família sem nada).
Ora alistando-se os soldados por volta dos 17/20b anos, e ficando colocados nas guarnições da fronteira (pouco ou nada romanizadas), seria de esperar que as mulheres fossem indígenas. Mas a onomástica (utilizando os 3 nomes puramente latinos) dessas mulheres indica aparentemente que elas são todas romanas (à volta de 99%). Dado que é pouco provável que imigrassem dezenas de mulheres romanas (ou romanizadas de longa data) para essas fronteiras, o que é mais provável é que as indígenas mudassem pura e simplesmente de nome; é sinal de que era considerado muito importante que aparentemente os soldados romanos (mesmo que fossem auxiliares) casassem unicamente com romanas.
Em seguida é feita uma breve estatística: de dois em dois anos eram recrutados cerca de 250 homens, sendo no mesmo período licenciados cerca de 120 veteranos (isto em anos normais). Isso significa que entre batalhas, deserções, doenças, cerca de 50% dos efectivos do exército não terminavam o tempo normal de alistamento (numa atricção que deveria ser superior à dos civis). Isso significava que dificilmente o exército conseguiria encontrar nos filhos dos legionários homens suficientes para manter os seus números tendo de recorrer a pessoas de fora; o exército nunca se poderia manter como uma casta fechada.
Q.F.M.
Roma Antiga
Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.
4 Comments:
"Isso significava que dificilmente o exército conseguiria encontrar nos filhos dos legionários homens suficientes para manter os seus números tendo de recorrer a pessoas de fora; o exército nunca se poderia manter como uma casta fechada."
A inserção de "estrangeiros" no exército romano deve ter ganhado cada vez maior relevo com o passar do tempo. E foi um dos factores que levou à desintegração da coesão do exército romano já no fim do império.
Muito interessante a questão das mulheres indígenas mudarem totalmente de nome, o que me parece mostrar duas coisas: Por um lado o estatuto claramente inferior das mulheres, porque normalmente os homens indígenas não mudavam de nome numa só geração. E por outro uma admissão mais facilitada para as mulheres.
E já agora boas festas para os autores e frequentadores do Roma Antiga.
Bem, o problema do exército romano é terrivelmente complicado. Enquanto eram recrutados individuos mesmo que estrangeiros, não havia problemas: esses estrangeiros eram colocados numa unidade, eram misturados com outros, diluindo-se a sua identidade romanizando-se aos poucos. O problema foi quando se recrutaram tribos inteiras que mantinham a sua identidade nacional, e só serviam Roma enquanto os seus interesses coincidiam, ficando Roma exclusivamente dependente dessas tribos. Mas isso sucedeu porque Roma já não tinha dinheiro para pagar a soldados de forma regular, tendo de entregar territórios a tribos para fazer o trabalho que era o seu.
Q.F.M.
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