Roma Antiga

Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.

quarta-feira, abril 14, 2004

Os últimos imperadores-V
Em conclusão, o que vemos nesta sucessão de imperadores? Não vemos um momento decisivo em que o império estivesse condenado à morte, mas uma lenta descida para o precipício com algumas reacções que com mais sorte poderiam ter salvo o império.
Os últimos imperadores tiveram algumas figuras bastante competentes e não se limitaram à figura estereotipada de governantes decadentes; mesmo assim, não conseguiram travar o fim, embora o império do ocidente, exceptuando em riqueza (mas talvez fosse esse o elemento de diferença!), não parecia estar em piores condições. Ambos estiveram dominados por meio século pelos descendentes de Teodósio que não fizeram qualquer esforço e entregaram o governo a eunucos e às mulheres das suas família (até Nero e Dominiciano governaram pessoalmente, mesmo que de forma déspota); mais grave, mantiveram-se completamente afastados do exército e deixaram que lentamente uma figura obtivesse o comando das forças militares (usando o título de Patrício ou magister militum); quando alguns imperadores quiseram recuperar as rédeas do poder nas mãos, foram obrigados a aceitar essa personagem e a dividir o comando. Ora se essas figuras se deixavam a princípio “assassinar” sem tocar no legítimo governante (Estilicão, Aécio), mais tarde Ricimer não teve tantos escrúpulos e nomeava os imperadores a seu bel-prazer.
A perda de Africa foi terrível pela privação de recursos, mas só com o domínio da Itália foi possível financiar várias expedições que conseguiram recuperar boa parte da autoridade imperial na península e na Gália; expulsar os bárbaros exigiria mais tempo. Ora aí está talvez o que faltou aos imperadores mais enérgicos: os seus reinados duravam no máximo 6 anos e com os seus assassinatos, os seus sucessores tinham de recomeçar tudo novamente, pois os bárbaros levantavam novamente a cabeça; um reinado de 20 anos talvez tivesse conseguido restabelecer a situação (o oriente nesse aspecto teve mais sorte).
Outro pormenor interessante a observar é a escolha de imperadores oriundos de boas famílias (senatoriais e consulares) com carreira administrativa e alguma experiência militar e que são nomeados ao contrário do que fora hábito durante muitos anos (em que o imperador era oriundo de uma família humilde que ascendia pelo seu pulso no exército e depois de uma luta obtinha a púrpura); talvez se um desses oficiais como Aécio ou semi-bárbaros tendo o comando das tropas e seu respeito se tivesse atrevido a proclamar-se imperador as coisas corressem de forma diferente.
Finalmente é de notar que a classe senatorial com o declínio da autoridade imperial volta a levantar a cabeça: marcam entraves ao seu poder (no recrutamento de homens, recolha de impostos) e preocupados unicamente com o seu bem próprio, sem qualquer interesse que ultrapassasse a sua Itália natal, estão indiferentes à sorte do império (que já não consideram seu) e preferem a submissão a um bárbaro que lhes garanta a manutenção dos privilégios. Faltava assim a capacidade de perseverança, que no auge da república levava ao recrutamento de exércitos atrás de exércitos que mesmo sendo esmagados acabariam por triunfar em relação ao inimigo pelo cansaço (mas nessa altura havia territórios a conquistar; neste período, os territórios em questão eram possuídos na maioria dos casos por outros romanos, uma vez que os bárbaros pouca terra ocupavam devido à sua escassez de números).
Q.F.M.