Roma Antiga

Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.

quinta-feira, maio 06, 2004




PERSONAGENS (VI): OCTÁVIO CÉSAR AUGUSTO Nascido em Nola (Campânia), a 24 de Setembro do ano 63 a.C., Caio Octávio era filho de um senador com o mesmo nome, que se distinguira como governador da Macedónia e que recebera o cognome de “Turino”, por ter esmagado uma revolta de escravos na região do Túrio.

Embora de origem modesta – os Octávios eram uma família “burguesa” de Veletri, no Lácio – Caio Octávio Turino ascendeu rapidamente na política romana, a que não será alheio o facto de ser casado com Átia, sobrinha de César. Mas a sua morte prematura, em 58 a.C., impediu-o de atingir o consulado.

Átia casou de seguida com o senador Lúcio Márcio Filipe, o que fez com que os filhos de Octávio Turino, Caio Octávio e Octávia, ficassem doravante sujeitos a um novo pater familias. Mas César, que cedo se apercebera das capacidades intelectuais do sobrinho, acabou por adoptar Octávio quando este completou 18 anos de idade (45 a.C.). Passou então a chamar-se Caio Júlio César Octaviano, tornando-se herdeiro do nome e da vastíssima fortuna do ditador.

Depois de combater em Espanha sob a ordens do pai adoptivo, na vitoriosa campanha contra os filhos de Pompeu (45 a.C), Octávio foi enviado para o Epiro (moderna Albânia), para tratar dos preparativos da anunciada campanha de César contra os Partos. E foi lá que, na sequência dos Idos de Março de 44 a.C., recebeu a notícia do assassinato do pai adoptivo, às mãos dos conspiradores liderados por Bruto.

Regressado a Itália, reclamou a sua herança e, com grande astúcia e habilidade, conseguiu o apoio e a adesão dos veteranos de César à sua causa. A sua juventude e aparente ingenuidade enganou os adversários políticos, que julgavam estar a servir-se dele, quando acontecia precisamente o contrário. Em cartas aos amigos, Cícero confessava que o jovem César (Octávio) era facilmente manipulável. E, na verdade, o astuto jovem queria fazer crer que assim era; de modo que, quando Cícero e António se aperceberam do quanto estavam enganados a seu respeito, era já tarde demais para que se pudessem livrar dele.

Entretanto, os conspiradores dos Idos de Março foram obrigados a fugir para o Oriente. António, Octávio e Lépido formaram o chamado “segundo triunvirato” – que, ao contrário do primeiro, assumia existência legal – para vingar a morte de César e restabelecer a ordem. Os dois partidos recrutaram exércitos e prepararam-se para o confronto final entre republicanos e cesaristas: e em Philipos (na parte europeia da actual Turquia), em 23 de Outubro de 42 a.C., a causa de Bruto e Cássio foi definitivamente perdida. Octávio ficou muito mal visto por não ter tomado parte no combate, a pretexto de uma febre; António ficou assim com os louros da vitória, certo de que seria ele o sucessor de César.

Vencidos os republicanos, procedeu-se à divisão do Império: António ficou com o Oriente, onde estavam as províncias mais ricas; Lépido com a Sicília e Octávio com o resto do Ocidente. Sexto, filho do grande Pompeu, dominava ainda o mar e grande parte da Hispânia.

Entretanto, os triúnviros decretaram proscrições: milhares de cidadãos foram executados e os seus bens confiscados. Octávio ficou algo mal visto, nestes seus primeiros anos de governo; Suetónio conta que certa altura, perante um pedido de clemência de um proscrito, o jovem triúnviro respondeu friamente: “É preciso morrer”. Cícero, o velho orador, foi um dos condenados à morte, entre muitos outros senadores e equites. Estas proscrições acabaram de vez com muitas famílias da velha aristocracia, que há séculos governava Roma.

Nos anos seguintes, Octávio alicerçou o seu poder em Roma e na Itália, fundando colónias e distribuindo terras aos veteranos de César. Venceu finalmente os pompeianos, valendo-se da ajuda do seu colega triúnviro do oriente; e debelou uma tentativa de golpe liderada por Lépido, que exilou e cuja vida poupou, talvez por respeito ao facto de aquela personagem ser ainda o Pontifex Maximus, chefe da religião romana.

De seguida, Octávio preparou-se para o embate final com António, começando por desacreditá-lo devido à sua união escandalosa com a rainha do Egipto, Cleópatra. Quando o triunvirato terminou oficialmente, em 33 a.C., foi restabelecida a República e procedeu-se à eleição de novos cônsules que, por sinal, eram partidários de António. Mas Octávio não se deixou afastar do poder: entrou na sala de reuniões do Senado com os seus legionários, substituiu os cônsules por outros da sua confiança, e enviou a António os magistrados depostos e respectivos partidários no Senado, num total de mais de 300 pessoas. A guerra civil reiniciou-se.

No ano seguinte, em 32 a.C., Octávio declarou guerra a António e Cleópatra. Em 2 de Setembro de 31 a.C., a armada de Octávio vencia em Actium, seguindo-se a conquista de Alexandria, em 29 a.C. Abandonado por muitos dos seus partidários – que sem qualquer pudor se passaram para a facção vitoriosa – António suicidou-se. E Cleópatra, depois de, sem êxito, tentar seduzir Octávio - e perante a vontade deste em fazê-la desfilar no seu cortejo triunfal - suicidou-se deixando-se morder por uma áspide. Cesárion, filho de César e Cleópatra, foi também executado por ordem de Octávio, assim como os filhos adultos de António e Fúlvia (ver “Matronas Célebres I”, neste blog). Os filhos de António e Cleópatra, contudo, foram poupados e enviados para a casa de Octávia, em Roma, onde foram educados a expensas de Octávio.

Senhor do Estado, Octávio era mais poderoso que Sila e César alguma vez sonharam. Tendo ficado com grande parte dos bens dos proscritos, era riquíssimo; e sendo reconhecido como princeps senatus pelo Senado (27 a.C.), deu início ao regime chamado do Principado. A verdadeira prova da astúcia de Octávio consistiu em manter a ficção das velhas instituições republicanas, quando na prática se estava a instaurar uma monarquia absoluta. Era uma solução tipicamente romana: sem romper de vez com a tradição, surgia um nova forma de exercer o poder.

Depois de muito deliberar, o Senado atribuiu-lhe então o título de “Augusto”, o que lhe conferia mais “auctoritas”, ou seja, autoridade moral, que ao próprio Senado. Augusto era agora o primeiro dos cidadãos. E como detinha o império proconsular e o poder tribunício, era doravante o senhor absoluto do Estado. Continuavam a existir cônsules, mas eram por ele escolhidos, tal como os restantes magistrados.

(Continua)

C.J.P.