Roma Antiga

Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.

quinta-feira, novembro 15, 2007

Nouvelle Histoire de l’église de Henri Marrou
Esta é uma história da Igreja Católica (embora contenha numerosos elementos sobre outras igrejas cristãs. Tenho o segundo volume de uma reedição (que na primeira edição fazia parte do volume I que era maior). O período descrito, vai desde Diocleciano até Gregório Magno.
Além de nos serem apresentados os principais acontecimentos que se deram na história da Igreja “mainstream” nesse período (e tenho dificuldade em usar o singular, dado que cada diocese era uma igreja por si só ou o termo católico, que nem sequer era usado nesse período), pode-se observar a génese dos fundamentos doutrinais da Igreja católica, as polémicas, as heresias, as cisões e reconciliações. É um período em que quase tudo estava ainda por definir; se Jesus era igual ou semelhante a Deus (ou pelo contrário era um ser plenamente subordinado), os limites (ou não) da liberdade dos homens, as origens do pecado, o poder da hierarquia e das comunidades, a fundação do monaquismo. Quando termina este período, de simples congregação de fiéis e descentralizada, a Igreja (católica, ortodoxa, monofisita, ou outra qualquer), passa a uma estrutura fortemente hierarquizada, em que os clérigos detém o monopólio do poder (e do saber), e que tem os seus fundamentos doutrinários bem estabelecidos.
A sua relação com os imperadores, de perseguida a perseguidora, a sua relação com os pagãos, a sua resposta aos problemas novos que se colocam (muitas vezes derivada da influência do neo-platonismo que implicou uma maior especulação teológica mas também preocupação de rigor com o vocabulário) são abordados.
Também vemos a diferença entre os territórios do império do Ocidente Latino (que excepto a Itália e Africa, eram bastante atrasados) com o oriente grego muito mais culto. Observamos o destino das comunidades cristãs fora do império romano (Arménia, Pérsia, Etiópia). E finalmente a lenta cristianização dos bárbaros (pagãos ou arianos).

Gosto muito do livro, e sendo de pequenas dimensões faz uma boa síntese do período que ajuda a compreender muito bem esse período fulcral da história da Igreja e da humanidade (só lamento o ton por vezes apologético do autor, mas é uma questão de gosto).

Q.F.M.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Creio q há algumas incorreções.
Desde Cristo até Gregório Magno a Igreja não perseguiu ningúém, antes pelo contrário: foi impiedosamente perseguida--e Diocleciano ainda foi pior do q Nero!!!-, com os animais no Coliseu,etc.
Mesmo Constantino não deu quaisquer privilégios à Igreja:limitou-se a conceder liberdade de culto, ao lado do paganismo.
E vejam a importância de Leão Magno de Gregório Magno...

9:31 da tarde  
Blogger quirites said...

A Igreja propriamente dita não, mas na medida em que nunca reprovou que os cultos pagãos fossem ilegalizados na esfera pública (templos fechados e proibição de procissões) e apoiou a perseguição dos heréticos pelo poder imperial (arianismo pelagismo e outros), temos de convir que passou de perseguida a conivente com os perseguidores.
Q.F.M.

3:46 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Q.F.M. não está a ir longe demais?
Está a olhar para aqueles tempos com os olhos de hoje!
E se houve perseguições da responsabilidade dos poderes imperiais critique o poder político, não a Igreja.
Quanto à centralização, ela é inerente ao crescimento da Instituição e foi um factor importante de unidade e de uniformização teológica sem o qual a dispersão de heresias teria efeitos altamente perversos.

8:12 da tarde  
Blogger quirites said...

De facto tem razão, estou a efectuar um juízo de valor ou a exprimir uma opinião se preferir) de acordo com os meus padrões. E de acordo com os meus padrões, considero que tal como a(s) Igreja(s) reclamou na época em diversas ocasiões (estou a lembrar-me em prol dos seus interesses, poderia ter-se oposto à perseguição que o poder imperial fez em relação aos outros cultos.
Em relação à centralização, no ocidente ela fez-se mais por motivos práticos (os laicos deixaram de ser alfabetizados e a ter capacidade de decisão e o topo da hierarquia passou a ser a única força com que os pobres se podiam valer contra os atropelos da nova aristocracia bárbara), do que propriamente por motivos religiosos.
Q.F.M.

12:21 da tarde  
Blogger quirites said...

Obviamente que foi sempre o estado romano que perseguiu. Mesmo no tempo do paganismo, não eram as sacerdotes vestais que andavam a perseguir os cristãos. O estado romano foi-se tornando cada vez mais totalitário (devido provavelmente às dificuldades) e limitou-se a mudar de religião, mas mantendo o sistema.

12:30 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home