CONTO: "O Capricho de César" (V)
Entretanto, a viagem de Caius prosseguia sob o sol abrasador do deserto. Após várias horas de caminhada, a caravana encontrou um oásis. Era uma pequena nascente rodeada de alguma vegetação, o que oferecia um notável contraste com toda aquela imensidão de areias escaldantes. Depois de se assegurar que não se tratava de uma qualquer miragem, o chefe dos caravaneiros apressou-se a ordenar uma paragem para descanso. Dorido, Caius saltou da sua montada e aproximou-se da água fresca, no que foi seguido pelos númidas e pelos animais.
Com a sede saciada, sentou-se à sombra de uma palmeira. Pegou num pedaço de pão e num outro de carne seca, e enquanto se alimentava continuou a recordar aquela tarde passada no Teatro de Marcelo.
O homem que naquela tarde entrara no tribunal acompanhado de guardas e escravos era Caio César, o Princeps, o Primeiro Cidadão de Roma. Conhecido pela alcunha de Calígula (1), que devia à infância passada nos acampamentos das legiões de seu pai, sucedera a seu tio-avô Tibério no cargo de mais alto magistrado do Estado.
Juntamente com o imperador, ricamente vestidos, vinham três dos seus amigos, membros de famílias tão distintas quão influentes. Muitas destas velhas famílias patrícias ombreavam com os Césares em termos de antiguidade e prestígio. Os Emílios Lépidos, os Cornélios Cipiões ou os Pompeus, por exemplo, viam os Césares como seus iguais e não como superiores. Isso fazia com que os imperadores encarassem estes velhos clãs republicanos com muito receio e desconfiança.
Calígula correspondeu friamente à saudação do cavaleiro Ausonius, que se encontrava visivelmente atrapalhado com tão inesperada visita e, sem grandes cerimónias, sentou-se na sua luxuosa cadeira. Os seus amigos sentaram-se em redor, em cadeiras trazidas pelos criados, e o nervoso Ausonius voltou a sentar-se na sua, agora muito mais atento ao espectáculo.
Calígula disse um qualquer gracejo que mereceu as gargalhadas entusiásticas dos seus companheiros. Mas quando Ausonius se juntou ao coro de risos, Calígula lançou-lhe um olhar furioso. Assustado e sem graça, Ausonius parou de rir e virou os olhos para o palco. A Caius parecia que o imperador queria com isso dizer que nem todos se podiam rir dos gracejos de César. Ou quereria fazer troça de Ausonius?
C.I.P.
(Continua)
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(1) - "Caligula" significa "pequena bota". Foram os legionários de seu pai que inventaram esta alcunha, como forma carinhosa de o tratar.
Roma Antiga
Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.
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