A Hispania Bizantina
Li um livro (publicado pela Universidade de Múrcia), sobre a presença bizantina na península ibérica (meados do século VI e VII). O autor recorreu a fontes escritas muito parcas) e sobretudo à arqueologia.
Começa por fazer um resumo da história do império romano do oriente depois da separação com o Ocidente. Demora-se mais com Justiniano e descreve (o pouco) que se sabe da história das relações entre os bizantinos e os Visigodos até à conquista das suas possessões no sul.
Em seguida é apresentada a organização política, administrativa e militar (de que pouco se sabe inferindo-se da de outras províncias). São apresentados os limites do que era a província da Hispania: o sul da mesma, não chegando até ao estreito de Gibraltar (e muito menos ao Algarve como era dito normalmente), nem a Córdova a norte (devendo esta cidade como o grande parte do centro nas mãos dos grandes proprietários Hispano-Romanos aliados à nobreza goda local). O comércio era bastante anémico, limitando-se ao norte de África e resto da península (embora se mantivesse sempre um comércio residual com leste do mediterrâneo para produtos de luxo).
São apresentados em seguida os resultados das escavações de várias cidades do período bizantino (começando de forma breve, pelo baixo-império). Os resultados são curiosamente coincidentes. Com o final do século II a crise atinge o sul da península em cheio: teatros e outros edifícios deixam de funcionar, ficando apenas os serviços mínimos (os Anfiteatros continuam a ser usados para espectáculos de gladiadores e animais mas estendem-se a outras actividades), o número de banhos públicos reduz-se. Os fóruns são ocupados por privados, que não só constroem as suas lojas fora dos espaços reservados, como também habitações. Muitas das ruas largas clássicas, são ocupadas por novas casas, ou vem as antigas a estender-se por aí. Tudo isso revelava um enfraquecimento da autoridade pública (ou uma indiferença). No século III são construídas muralhas, usando a pedra dos antigos edifícios públicos. Na época da conquista bizantina, estes estão normalmente reutilizados para outras funções (habitação ou pedreira). As antigas domus de ricos proprietários continuam a ser ocupadas, embora progressivamente percam os seus aspectos técnicos mais elaborados. Se perderam muitos dos edifícios monumentais, vêm acrescidas Igrejas (a bem dizer, normalmente antigos templos pagãos reconvertidos). A ocupação bizantina pouco vai mudar esse panorama: reconstrução de muralhas, um ligeiro incremento do comércio, devido à aquisição de produtos do império por parte das guarnições que eram de fora e queriam continuar a adquirir alimentos, vinhos e cerâmicas que estavam habituadas (mas o seu escasso número de alguns milhares não chegava para muito).
Resumindo, a situação aflitiva do império, com guerras em frentes muito importantes (em Itália contra ostrogodos primeiro depois lombardos, eslavos a norte da Ilíria, contra os persas), impedia quaisquer hipóteses de um renovamento dos domínios imperiais na península; apenas podiam tentar aguentar, jogando com a notável instabilidade do reino visigodo, mas não tendo forças para aguentar uma ofensiva goda assim que surgisse um soberano forte.
Roma Antiga
Blog sobre a Roma Antiga: história, cultura, usos e costumes.
6 Comments:
Você já leu o livro Ramsés?esqueci o nome do autor,mas é ótimo.qualquer dia você poderia postar algo sobre este livro.
Depois da uma passada la no meu blog:
http://horahistoria.blogspot.com/
Vi o seu blog. Tem um bom resumo de Roma.
uma pergunta algo marginal... mas pode ser que tenha alguma relevância.
Há um certo hábito de dizer que a liturgia moçarabe (hispânica, visigótica...) teria sofrido consideráveis influências bizantinas. Fruto da presença imperial no leste da península.
Segundo o livro (ou a vossa opinião) essa ideia tem pernas para andar?
Para mais informações consultar o fórum História Universal
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